domingo, 30 de junho de 2024

Antígona - Resumo da obra

          "Deixa-me sofrer o tremendo castigo de minha temeridade! Por muito que eu sofra, nunca serei privada de uma bela morte."
Sófocles - Antígona , I, 20
Antígona
A peça que Sófocles escreveu há 2.500 anos exalta a coragem de uma princesa que enfrenta um rei tirano, continua até hoje arrancado admiração do publico ocidental e intensas indagações da crítica literária e filosófica sobre a real motivação da devotada filha de Édipo em arriscar a própria vida em nome de um princípio. A mais recente das contribuições ao fascinante tema encontra-se no livro de Kathrin Rosenfield Antígona - de Sófocles a Hölderlin. Leia a seguir:
As filhas de Édipo (*)
As duas filhsa de Édipo Rei, que varara seus próprios olhos, cegando-se (depois de ter descoberto a sórdida história familiar em que se envolvera como executor e vítima), a frágil e temerosa Ismena e a altiva Antígona, acompanhou o pai no exílio. Teseu, o lendário rei-herói de Atenas, condoído da situação em que o ex-soberano de Tebas se encontrava, oferecera-lhe abrigo na cidade. Não demorou para que Édipo, sofrido e amargurado, morresse. Atendendo aos augúrios que diziam que onde o seu corpo fosse enterrado toda a região ficaria protegido, Édipo, um pouco antes de baixar ao Hades, determinara a Teseu que não revelasse a quem quer que fosse o lugar em que seria sepultado, nem mesmo para as suas filhas:
        "Sem que ninguém me conduza, eu próprio te guiarei imediatamente ao lugar onde devo morrer. Mas tu não descubras jamais a nenhum homem onde se esconde, nem a região em que está situado meu túmulo, a fim de que, melhor do que muitos escudos e lanças te defendam sempre contra os vizinhos.
(Édipo em Colono)
            Assim, quando o desenlace se deu, elas nem puderam prantear sobre a sua tumba. Desamparadas, sozinhas, elas rogaram a Teseu que as enviasse de volta aos seus. Queriam retornar a Tebas, pois já haviam recebido notícias que seus dois outros irmãos, Etéocles e Polinices, atingidos pela ará, a imprecação que Édipo lançara sobre seus dois filhos malditos, estavam em guerra um contra o outro pela disputa do trono, e pelo menos Antígona tinha esperanças de, lá chegando, evitar um desenlace doloroso.
             (*) a lenda de Édipo, o de Pé torto, provavelmente deriva do mito do Tifão vindo do Egito, onde o seu pai, Laio, o demônio da Noite, é morto pelo próprio filho, o Dia, que termina casando-se com Jocasta, a mãe-aurora, que deu-lhe a luz.
O ciclo tebano
            Teatro Dionísio, em Atenas
             A peça Antígona, apresentada em Atenas provavelmente no ano 441 a.C., encerrava o sexteto que Sófocles dedicou à tragédia de Édipo, rei de Tebas (as duas primeiras eram Édipo Rei e Édipo em Colono, as outra três desapareceram), talvez uma das mais comoventes e impactantes histórias da literatura ocidental. Não é um despropósito imaginar que a idéia de contar a história do infeliz rei incestuoso e seus infortunados filhos tenha sido concebida por ele exatamente por Édipo ter-se recolhido a Colono, um demos bem próximo a Atenas e local de nascimento de Sófocles.

          O grande autor trágico viera ao mundo ali em 495 a.C., filho de uma família razoavelmente abastada, e deve ter sido criado ouvindo as histórias que cercavam o amaldiçoado monarca tebano. O curioso dessa relação de Sófocles com a história de Édipo e dos seus descendentes, é que o dramaturgo acabou por ser eleito estratego(general), na época da Guerra de Samos (441-439 a.C.), pelos seus concidadãos, provavelmente por indicação de Péricles, exatamente pelo sucesso alcançado pela encenação de Antígona. Também ao seu sucesso como autor deve-se a nomeação dele em 443 a.C. para o cargo de hellenotamia, o arrecadador de tributos, nomeado pela Ecclésia para recolher os dinheiros das cidades aliadas de Atenas.

A tragédia do caráter
                 Sófocles
Enquanto seu mestre Ésquilo, a quem Sófocles sucedeu no gosto do público ateniense, apresentava invariavelmente os seus heróis submetidos às leis da fatalidade, esboçadas por deuses implacáveis, esse procurou traçar um cenário diferente para a ação dos seus personagens. Se bem que os deuses continuassem os mesmos, o destino dos heróis de Sófocles deriva bem mais do caráter deles do que do determinismo fatalista. O Agon, o embate, o conflito, que alimenta o seu drama, é antes de tudo um choque de personalidades fortes, claramente definidas e assumidas em quanto tal. Em suma, há sim um poder do além intervindo sistematicamente, mas isso não retira o espaço da liberdade de ação do homem. Interessa observar que destaca-se entre essas personagens fortes, fortíssima até, a jovem filha de Édipo, Antígona. Ela, mesmo sendo mulher, considerada inferior para a maioria dos gregos de então, incorpora os valores altivos e honrados herdados de uma dinastia aristocrática, a dos Labdácidas, e vai à luta para manter os sagrados princípios da sua casta.
A briga dos herdeiros
                Édipo rei, no seu tempo de fausto
Com o exílio de Édipo, seus dois filhos, Etéocles e Poliníces, ainda que amaldiçoados pelo pai, decidem dividir o poder. Combinam entre si que enquanto um assume o trono o outro responde pelo tesouro de Tebas. Ocorre que, transcorrido um tempo, estando a coroa com Etéocles, esse, possuído pelo daimón, pela praga jogada sobre os Labdácidas, nega-se a dar lugar ao irmão. Polinices, irado e magoado, jurando vingança, retira-se então da cidade natal, indo abrigar-se na corte do rei Adastro de Corinto. Lá, o príncipe tebano usurpado casa-se com a filha de rei e esse então jura auxiliar o genro na recuperação do trono tebano. Para tanto, recruta um grupo de príncipes argivos que juram tomar a cidade ou morrer tentando. Cercado os muros de Tebas, a população começa a padecer dos efeitos do sitio até que devido ao sacrifício da vida de Meniceu, o filho de Creonte e primo-irmão de Etéocles e de Polinices, a sorte se inverte. Os atacantes são abatidos e postos em fuga, mas os dois irmãos não sobrevivem. Etéocles, num rápido duelo com Polinices, o mata, não sem antes também se ver varado pela espada do irmão. Dessa forma encerra-se a linhagem masculina dos Labdácidas, só restando da antiga família dos descendentes de Laio e de Édipo, as duas moças.
O Édito de Creonte
                Um casal grego
No vazio de poder que se dá, quem legitimamente assume como "o senhor do poder e do trono" em Tebas é Creonte, o cunhado de Édipo e tio de seus filhos e filhas. Indignado com a insurreição de Polinices, que voltou-se contra a sua cidade e contra o restante da sua própria família, rebeldia que, inclusive, ceifou a vida de um dos filhos de Creonte, o novo rei determina um castigo exemplar para o jovem príncipe morto: que não seja dado abrigo ao cadáver dele. Que ele reste insepulto, servindo suas carnes putrefatas "como um objeto horrível à vista, para pasto das aves e dos cães". Dessa forma, a alma de Polinices vagaria danada, sequer com direito à baixar ao Hades, a morada dos mortos (*). Já o outro irmão, Etéocles, que morreu em defesa da cidade, mereceria "todas as honras fúnebres, as quais vão para debaixo da terra, para os heróis defuntos". Ai de quem tentasse não respeitar o édito do rei, pois Creonte determinou "que não haja condescendência a respeito dos que desobedecerem", pois a morte seria a paga.
(*) era crença entre os gregos antigo que a alma dos mortos atravessava uma barca, conduzida por Caronte, um barqueiro mal-humorado, a quem convinha agradar fazendo com que se colocasse uma moeda na boca ou na testa do morto. Chegando às margens da mansão do Hades, onde os mortos se concentravam, havia na sua frente o cão Cérbero, que deixava a alma entrar, mas jamais sair.
A reação de Antígona
Logo que chegam a Tebas, as duas irmãs tomam conhecimento do destino infausto dos irmãos como também do édito de Creonte. Desta vez é Antígona quem se indigna. Não poderiam elas, como as últimas familiares restantes do morto, deixar de cumprir com os obrigatórios ritos consumados. Ismena, porém, acha aquilo temerário. Lembra a Antígona que elas descendem de uma dinastia amaldiçoada, onde todo os antepassados ou próximos tiveram morte horrível (Laio, o avô delas, foi morto pelo próprio filho Édipo, que depois arrancou os próprios olhos; Jocasta, simultaneamente, a mãe e avó delas, matou-se, e seus dois irmãos, Etéocles e Polinices, foram-se na voragem do fratricídio). Quem sabe seria melhor acatar as determinações do novo rei, o tio delas? Afinal, pondera, elas são mulheres e ninguém iria cobrar-lhes atitudes viris e temerárias, tal como desafiar a autoridade de Creonte. Antígona, porém, desprezou-a. Para ela, a irmã era covarde, incapaz de sensibilizar-se com as responsabilidades da casta nobre, a que por sangue pertenciam. Na calada da noite, contornando as sentinelas que vigiavam o irmão defunto, ela conseguiu prestar-lhe as homenagens, fazendo as libações e jogando um pouco de terra sobre os seus restos.
Quando um mensageiro traz-lhe a notícia do desrespeito às suas ordens, Creonte, tomado de raiva, acreditou, num primeiro momento, que aquilo devia-se a uma manobra de "cidadãos descontes" que "murmuravam e abanavam a cabeça às escondidas, não conservando dóceis, como deviam, o pescoço sob o jugo", teriam assalariado alguém para praticar aquele ato de provocação ao novo governo.
Enfrentando o Tirano
"Ele não tem direito a impedir os meus deveres sagrados."
(Antígona,10)

Um dama da nobreza grega
Novamente os sentinelas expõem o morto ao sol e, outra vez, Antígona vem-lhe prestar os favores de um velório. Detida, ela é conduzida ao rei. A princesa não se desculpa. Ao contrário, depois de ter iniciado no interrogatório cabisbaixa, lança no rosto de Creonte que nenhuma lei humana ou real poderia detê-la naquele seu ato de obediência aos desígnios bem mais profundos. Aqueles que obrigam um parente a dar sepultura a um dos seus. Possesso, o rei ordena que a emparedem, que a sepultem viva. Da boca de Antígona, tomada por um volúpia orgulhosa, quase suicida, não sai nenhum apelo de comiseração ou perdão.
Tudo indica que Creonte passa a ver na eliminação da filha de Édipo (a sentença também atinge a inocente Ismena) uma maneira de despoluir o reino de Tebas dos derradeiros descendentes incestuosos de Laio, e também evitar que Herão, o seu filho sobrevivente, contraia núpcias com Antígona, sua noiva prometida. O filho, por sua vez, se horroriza com a intransigência do pai. Acusa-o abertamente de tirano ("a cidade não pertence a um homem só"), dizendo-lhe que por toda a cidade o gesto de Antígona, tentando enterrar o irmão, é entendido como um gesto nobre. Mas Creonte o repreende, acusando de obedecer a uma mulher ("caráter vil, às ordens de uma mulher"), Herão, em fúria, decepcionado, atendendo mais aos reclamos de Afrodite, a deusa do amor, do que os deuses familiares, rompe com o pai.
A entrevista com o mago
Tirésias, o celebrado adivinho que era cego, vem alertar Creonte dos malefícios da sua atitude. Tendo escutado o pio das aves e interpretado os agouros (a gordura dos pássaros sacrificados não derretera), concluiu ele que "a cidade sofre por tua culpa"..."por lares santos terem sido profanados". Apelou então ao rei que seguisse a rota da prudência. Este, possesso, acusa o mago de interesseiro ("toda a gentalha dos adivinhos é ávida de dinheiro"), enquanto o solene cego responde-lhe que ele está "completamente infectado" pela falta de juízo. Previu então, ao ir se retirando da audiência, que uma grande desgraça estava prestes a abater-se sobre a casa do rei. Novamente só, assustado com as palavras certeiras do profeta, Creonte entregou-se à dúvidas. Atormentava-o agora à solidão do poder. Ninguém mais o apoiava. Quem sabe se haveria ainda um tempo para a remissão? Chama então os guardas e põe-se a caminho. Quer ir libertar Antígona.
Um dilúvio de desgraças
     O guerreiro com elmo, orgulho da raça
A volta atrás do rei porém deu-se tarde. Chegando ao local, ao ordenar que desemparedassem Antígona, deram com ela morta. A filha de Édito pendia numa corda, enforcara-se. Herão, o noivo, enlouquecido pela dor, desembainhado a espada, tenta estocar o pai, que, assustado, refugia-se do lado de fora do muro caído. O rapaz então, alucinado, volta a ponta da lâmina contra o seu abdômen e deixa-se cair sobre ela, matando-se. Mas o dilúvio da fatalidade que desabou sobre a família do soberano de Tebas não se encerrou ainda ali. Eurídice, a esposa de Creonte, ao saber no palácio da morte do único filho que lhe restara, também decidiu-se se suicidar. O rei, num desespero crescente, toma consciência de que foi sua atitude quem causou aquele infortúnio todo ("Eu fui a causa deles! Fui eu, fui eu, miserável, quem te matou! Reconheço a verdade!"). Meio enlouquecido, pede aos guardas que o carreguem para longe daquelas vistas de gente morta:
"Levai daqui o louco, que, sem querer, filho te matou e também a ti, esposa! Ai, infeliz de mim! Não sei para qual devo olhar, nem onde me apoiarei; porque estão invertidas todas as coisas que podiam servir-me de amparo: sobre a minha cabeça desabou um insuportável destino!."
Interpretando "Antígona"
É corrente entre os estudiosos das tragédias gregas que elas serviram, antes de ser um entretenimento, como um estímulo a grandes discussões jurídicas, políticas, filosóficas e existenciais da sociedade grega e, porque não dizer, da humanidade. Antígona é, nesse sentido, uma das que mais longamente prestou-se às mais diversas interpretações políticas e literárias. O filósofo Hegel, por exemplo, considerou-a, longe de ser apenas um enfrentamento entre dois teimosos de cabeça quente, como um modelo do choque existente entre os interesses do Estado representado pelo rei Creonte, frente às Leis Não Escritas, a dikê, a ordem natural e os direitos familiares invocados pela princesa tebana.
O crítico H.D.F.Kitto (A Tragédia Grega, Coimbra, 1972), por sua vez, entendeu que, entre as duas fortes personagens que a dominam, ela é a tragédia de Creonte. A filha de Édipo, atormentada pela crescente infelicidade da sua família, talvez estivesse, ao desafiar a lei, em busca de uma morte gloriosa, solene, auto-sacrificando-se no altar da sua raça em extinção. Sobre ele, porém, é que concentraram-se as responsabilidades ("Ó anciãos, todos vós sois como arqueiros que atiram para este homem como sobre um alvo"). Apesar da peça chamar-se "Antígona", é ele, Creonte, quem domina o cenário. É em torno da sua decisão que é tecida toda a rede de infelicidades.
Príncipe recém-entronado, Creonte tem por objetivo fixar dois princípios: começar uma nova dinastia despoluída, afastada da maldição que cercava os incestuosos Lambácidas e dar uma punição exemplar aos que viessem de alguma forma desafiar a sua autoridade, pela desobediência ou pela rebeldia. Como ele fez ao emparedar Antígona, ou ainda deixando Polinices insepulto. Gradativamente, por mostrar-se obcecado em afirmar-se como tirano, todos dele se afastam. O filho, o mago Tirésias e, por fim, a própria esposa. Na verdade, pode-se considerar a peça como uma notável exposição sobre a solidão do poder e o gigantesco preço que um estadista é obrigado, por vezes, a pagar por ter tomado uma decisão que ele considerava acertada.
Albin Lesky (La tragedia griega, Barcelona, 1970), entrementes, não acredita num embate entre o Estado e a Família, mas que tudo deriva da maldade e mesmo crueldade de Creonte, que age como se fosse um possesso, quase se deliciando com o poder que dispõe de fazer executar a sua vontade inquestionável. É de se considerar também que ele descarregou sobre Antígona uma vingança que ele não pôde executar sobre os filhos de Édipo, que, naquela altura já estavam mortos, pois, afinal, foi a luta fratricida que fez com que Creonte perdesse um dos seus filhos, dado em sacrifício para o bem da cidade.
Para a dupla J-P.Vernant & Vidal-Naquet (Mito e Tragédia na Grécia Antiga, S.Paulo, 1977) a grande tragédia de Sófocles não trata só da maldade de Creonte ou da coragem de Antígona, nem mesmo um conflito que opõe o espírito político do rei, oposto ao espirito religioso da filha de Édipo, mas sim um embate, insolúvel, entre "dois tipos de religiosidade", de "dois domínios da vida religiosa":
Antígona
Creonte
Representante da religião familiar, puramente privada, limitada ao círculo estreito dos parentes próximos, ao philoi, centrada no lar familiar e nos mortos, a qual ela deve obrigações impostergáveis, sem possibilidade de transigir.
Representante da religião pública onde os deuses da cidades tendem finalmente a confundir-se com os valores supremos do Estado. O magistrado supremo tem o dever de fazer respeitar seuKrátos (governo) e a lei que proclamou.
Um conflito intradinástico

Na erudita interpretação que Kathrin Rosenfield (Antígona - de Sófocles a Hölderlin, P.Alegre, 2000) faz da tragédia "Antígona" (a partir da tradução feita pelo poeta alemão Hölderlin, em 1800), traz uma nova contribuição. Não que ela negue as anteriores acima expostas, mas sim que releva sua atenção para um outro aspecto do embate do tio com a sobrinha - a questão, digamos, genético-dinástica. Creonte, para ela, assume não só o papel do estadista tirânico, querendo ver valer a todo custo um édito seu, mesmo que isso implique no sacrifício de alguém da família real, como também o do pai extremando que procura evitar que o seu filho Hemão viesse a se casar com alguém abominado pelos deuses. Sabendo que Antígona era resultado de um casamento incestuoso, ela, contraindo núpcias com Hemão, faria com que o futuro rebento daquela união, o neto de Creonte, fosse também atingido pela praga que cercara a todos os Labdácidas. Por isso, o rei manifestou-se com tanto ardor. Não se tratava só de política, mas de algo mais profundo, que partia do mundo dos instintos, o pavor de ver seu genos (estirpe) também poluído. Os gritos possessos de Creonte eram a voz do sangue ameaçado, não uma fala do trono.
Portanto, o extraordinário drama abarca também uma desavença intradinástica, onde a velha estirpe, representada pelo sangue contaminado de Antígona, luta para salvar sua honra de uma família decadente, enquanto uma nova estirpe, que se imagina ainda não poluída, tenta afirmar-se como sucessora legítima da Casa dos Labdácidas. Ambos seriam pois, faces diferentes de uma exigência genética. Uma inteiramente infectada, outra tentando fugir ao contágio.

O Príncipe, de Maquiavel - Resumo do livro.

O Príncipe de maquiavel é dirigido a um Príncipe que esteja governando um Estado, e o aconselha sobre como manter seu governo da forma mais eficiente possível. Essa eficiência é a ciência política de Maquiavel.
A presente obra é um livro de orientação prática de algumas ações políticas que o Príncipe deve fazer para conquistar e se manter no poder. O escrito se desdobra em 26 Capítulos.
Carta Dedicatória
Maquiavel, Nicolau dedica sua obra a Lorenzo de Medici (Lorenzo II), neto de Lorenzo, o Magnífico; apesar de pouco tempo antes ter sido preso e torturado, sob suspeita de participar de uma conjura contra os Medici, mas teve sua inocência reconhecida.
Quando Maquiavel foi apresentar O Principe a Lorenzo II em 1515, este o acolheu com frieza.
Diz na dedicatória:
"Embora julgue este trabalho indigno de vossa presença, ainda assim confio que, por vossa humanidade, possa ser aceito, considerando que eu não vos poderia fazer melhor presente que vos dar a faculdade de entender em muito pouco tempo o que aprendi e compreendi em muitos anos, com tantas provações e perigos para mim mesmo."
O motivo que levou Maquiavel a dedicar o livro a Lorenzo é mostrado no último capitulo da obra.
          Capítulo 1: Os vários tipos de Estado, e como são instituídos
Apresenta dois tipos de principados o hereditário e o adquirido, e apontam quais são as duas formas de como o governante chega ao poder uma pela virtude e outra pela fortuna.
"Os principados ou são hereditários, quando por muitos anos os governantes pertencem à mesma linhagem, ou foram fundados recentemente."
Capítulo 2: As monarquias hereditárias
Neste Capítulo Maquiavel fala que a dificuldade de se manter um Estado novo é maior do que a de se manter um Estado hereditário, pois quanto a este último, o povo já está acostumado com a soberania de uma família, de uma linhagem.
"[...] a dificuldade de se manter Estados herdados cujos súditos são habituados a uma família reinante é muito menor do que a oferecida pelas monarquias novas. Basta para isso evitar transgredir os costumes tradicionais e saber adaptar-se a circunstâncias imprevistas."
Se um Príncipe conquista determinado Estado e tenta mudar seus costumes, corre o risco de o povo revoltar-se contra ele, o que pode gerar conspirações apoiadas pela grande massa o povo. Deste modo, o Príncipe respeitando a cultura local, se manterá no poder; a menos que, como diz Maquiavel, uma força excepcional o derrube, porém, se tal fato ocorrer, poderá reconquistá-lo na primeira oportunidade oferecida pelo usurpador.  Maquiavel ainda fala que na medida em que o soberano não ofende seus súditos e não mostra motivos para o povo odiá-lo, estes o quererão bem, e mais:
"[...] qualquer alteração na ordem das coisas prepara sempre o caminho para outras mudanças, mas num longo reinado os motivos e as lembranças das inovações vão sendo esquecidos."
Quando o povo vive do seu modo, com seus costumes e sendo respeitado pelo monarca, este se acomoda de tal forma que as lembranças, os desejos de mudanças vão sendo postos em esquecimento.
Capítulo 3: As monarquias mistas
Maquiavel mostra neste Capítulo que o povo tem sempre o desejo de mudança, desejo de melhoria; as pessoas, segundo Maquiavel, mudam com grande facilidade de governantes esperando tal mudança, que, no pensar de Maquiavel, é sempre para pior.
Para ele, o Príncipe sempre precisará do favor dos habitantes de um território para poder dominá-lo. A imposição do novo governo ou provocações vindas dos soldados do monarca, ou outros motivos, podem gerar injúrias no povo, gerando, assim, inimigos para o Príncipe, que são as pessoas ofendidas com a ocupação do seu território.
"[...] depois de conquistado uma segunda vez, os territórios rebeldes não voltam a ser perdidos com a mesma facilidade. A própria rebelião faz com que o monarca se sinta inclinado a fortalecer sua posição punindo os rebeldes, desmascarando os suspeitos, revigorando seus pontos fracos."
Quando se é conquistado um território de mesma região e língua, é mais fácil de dominá-lo do que se não os fosse, ainda mais se este povo não estiver habituado com a liberdade. O novo Príncipe deve extinguir toda a linhagem de seus antigos governantes, mas não pode deixar que haja divergência de costumes; deve também o Príncipe fazer a manutenção das leis e dos tributos.
Ao se conquistar uma província com língua, leis e costumes diferentes, um dos meios mais seguros, segundo Maquiavel, é que o monarca vá pessoalmente habitá-lo. Estando o soberano presente, os distúrbios serão logo percebidos e rapidamente corrigidos. . Outra forma seria de se estabelecer colônias em um ou dois lugares estratégicos na província, tomando as casas das pessoas que vivem neste local por ser uma pequena parte da população, em nada representarão perigo ao monarca. A grande maioria da população também não fará mal ao Príncipe , ao contrário, se sentirá grata pelo fato de o monarca os deixar em paz e não quererão ofender o soberano.
Disse Maquiavel: Note-se que é preciso tratar bem os homens ou então aniquilá-los. Eles se vingarão de pequenas injurias, mas não poderão vingar-se de agressões graves; por isso, só podemos injuriar alguém se não temermos sua vingança.
O Príncipe de um território estrangeiro deve liderar e defender seus vizinhos mais francos e procurar debilitar os mais poderosos. Não há dificuldade para se conquistar um território onde movidos pela inveja dos que tinham o poder, os habitantes menos poderosos apoiam o invasor; porém deve-se ter cuidado para que estes não adquiram poder e autoridade em demasia.

Disse Maquiavel: ... as guerras não podem se evitadas e que, quando adiadas, só trazem benefícios para o inimigo. . A guerra é inevitável, então, quando se tem a oportunidade de enfrentar o inimigo, deve-se enfrentá-lo, quanto mais se adia uma batalha, mais o inimigo fica preparado, portanto, adiar uma guerra só traz sempre prejuízos ao monarca.
Capítulo 4: Por que o reino de Dario, ocupado por Alexandre, não se rebelou contra os sucessores deste, após a sua morte
Sempre os reinos foram governados de duas formas: por um Príncipe e seus assistentes; ou por um Príncipe e vários barões, esses barões são ligados ao Príncipe por laços de natural afeição. Estes que estão de junto ao Príncipe, são os nobres, os prestigiados; mas dentre esses sempre há quem aspire por inovações. Estes podem abrir caminho para um invasor tomar o poder, facilitando sua vitória, vê-se assim que depois não bastará aniquilar apenas família do Príncipe , mas também os nobres que estarão sempre prontos a liderar novas revoluções.
Capítulo 5: O modo de governar as cidades ou Estados que antes de conquistados tinham suas próprias leis
Ao se dominar um Estado acostumado com a liberdade, e com suas próprias leis, Maquiavel mostra três formas e mantê-lo: primeira, arruinando-o; segunda, habitando-o (ver Capítulo III); terceira, permitindo-lhe que viva seguindo suas próprias leis, pondo-lhe tributos e pondo ali um governo de poucas pessoas que sejam mantidas amigas.
"[...] a cidade habituada à liberdade pode ser dominada mais facilmente por meio dos seus cidadãos do que de qualquer outra, desde se queira preservá-la."
Quem se torna o senhor de uma cidade livre, e não aniquila, pode esperar ser destruído por ela, pois sempre haverá motivo para rebelião em nome da liberdade perdida e das suas eventuais tradições, que nem o curso do tempo nem os benefícios conseguem apagar.
Por isso se diz que é melhor respeitar os costumes do território conquistado, ou então, destruí-lo. Sempre estarão na mente do povo seus antigos costumes, e, mais cedo ou mais tarde estes se revoltarão contra o que está sendo imposto, e não haverá benefício ou tempo, como disse Maquiavel, que os faça esquecer, ainda mais se o povo estiver junto.
Quando um estado está habituado a viver sob o governo de uma linhagem de Príncipes que tenha sido extinta, seu povo não entrará em acordo para a escolha de um soberano; assim é fácil, pois, dominá-los, pois este povo não sabe viver em liberdade.
"Nas repúblicas, por outro lado, há mais firmeza, brio, maior ódio, e desejo de vingança; não poderão abandonar a memória de sua antiga liberdade. Assim, o meio mais seguro de dominá-las será devastá-las, ou nelas habitar."
Esses ensinamentos de Maquiavel nos mostram que o Príncipe , sempre mais que tudo, deve manter o povo, diríamos talvez que, inconsciente , enganados com a situação de que tudo está bem e de que o Príncipe é bom; quando não se pode dar essas impressões ao povo segundo Maquiavel deve-se aniquilá-lo para que o poderio do monarca continue, pois caso o contrário, o povo se revoltará, derrubando o monarca.
Assim o monarca deve sempre procurar estar bem com o povo, pois este último tendo consciência ou não, é sempre a força maior; apesar de sempre ser a classe inferior. O que seria de um reino sem povo? Quem pagaria os tributos? Quem trabalharia pra sustentar os luxos do Príncipe? Quem seria governado? O Príncipe só é Príncipe quando tem quem governar.
Capítulo 6: Os novos domínios conquistados com valor e com as próprias armas
Os homens sempre procuram seguir os caminhos percorridos por outrem, pondo em prática seus atos que deram certo e evitando praticar seus passos que não deram certo. Os que se tornam Príncipes por seu próprio valor e com suas próprias armas, se tornam Príncipes com dificuldade, mas mantêm facilmente seu poder. Segundo Maquiavel, as dificuldades se originam em parte nas inovações que são obrigados a introduzir para organizar seu governo com segurança.
"Vale lembrar que não há nada mais difícil de executar e perigoso e manejar (e de êxito mais duvidoso) do que a instituição de uma nova ordem de coisas. Quem toma tal iniciativa suscita a inimizade de todos os que são beneficiados pela ordem antiga, e é defendido tibiamente por todos os que seriam beneficiados pela nova ordem alta de calor que se explica em parte pelo medo dos adversários, quem têm as leis do seu lado, e em parte pela incredulidade dos homens."
Quanto a isso, Maquiavel diz que a natureza dos povos é lábil: é fácil persuadi-los de uma coisa, mais é difícil que mantenham sua opinião. E que convém ordenar tudo de modo que, quando não mais acreditarem, se lhes possa fazer crer pela força.
Quem com suas próprias armas consegue algo, valoriza mais do quem conquista com armas alheias.
Capítulo 7: Os novos domínios conquistados com as armas alheias e boa sorte
Quem chega ao poder em troca de dinheiro ou pela graça alheia, com muita dificuldade manter-se-á no poder. Só com muito engenho e valor poderá se manter.
"Além disso, os Estados criados subitamente como tudo o mais que na natureza nasce e cresce com rapidez não podem ter raízes sólidas, profundas e ramificadas, de modo que a primeira tempestade os derruba. A não ser que, conforme já disse, a pessoa que chegou ao poder tenha tanta virtude que saiba conservar o que a sorte lhe concedeu tão de súbito, estabelecendo, em seguida, as bases que os outros precisam erigir antes de se tornarem Príncipes."
Chegar ao poder dessa forma, é chegar despreparado, sem raízes; quem não cuidar de procurar se estabilizar, valorizar, tornar-se astuto, perderá o Estado. Ou no caso se é possível prever, se deve suprir essas carências bem antes.
Capítulo 8: Os que com atos criminosos chegaram ao governo de um Estado
Maquiavel cita dois exemplos de pessoas que se tornaram Príncipes por meio do crime, o primeiro, o de Agátocles após tantas traições e tão grande crueldade que além de ter obtido êxito na conquista, conseguiu se manter no poder por muito tempo; Maquiavel explica esse fato ao de que Agátocles usou da crueldade apenas uma vez: para chegar ao poder. Chegando ele lá, foi diminuindo sua crueldade de modo a ser querido por seu povo.
O segundo exemplo é o de Oliverotto de Fermo que com tamanha crueldade chegou ao poder, e lá se manteve cruel, o que fez com que pouco tempo depois, este fosse derrubado do poder e morto por César Borgia, juntamente com seu mestre em virtudes e atrocidades Vitellozzo.
"Não se pode, contudo, achar meritório o assassínio dos seus compatriotas, a traição dos amigos, a conduta sem fé, piedade e religião; são métodos que podem conduzir ao poder, mas não à glória."
"[...] ao tomar um Estado, o conquistador deve definir todas as crueldades que necessitará cometer, e praticá-las todas de uma vê, evitando ter de repeti-las a cada dia; assim tranquilizará o povo, ao não renovar as crueldades, seduzindo-o depois com benefícios. Quem agir diferentemente, [...], estará obrigado a estar sempre de arma em punho, e nunca poderá confiar em seus súditos, que devido às contínuas injúrias, não terão confiança no governante."
"Os benefícios, por sua vez, devem ser concedidos gradualmente, de forma que sejam mais bem apreciados."
O Príncipe deve sempre agir pensando no povo, pois na verdade é o povo quem detêm o poder e a força. Com um monarca cruel, o povo se torna amedrontado e injuriado, acabando por se reunir e destruir seu poderio. Porém quando os benefícios vêm, o povo se sente feliz e quer bem o monarca, o que diminui consideravelmente a possibilidade de conspiração.
Capítulo 9: O governo civil
a visão de Maquiavel, governo civil é governo em que o cidadão se torna soberano pelo favor de seus concidadãos.
"O governo é instituído pelo povo ou pela aristocracia, conforme haja oportunidade para um ou para a outra. Quando os ricos percebem que não podem resistir à pressão da massa, unem-se, prestigiando um dos seus e fazendo-o Príncipe, de modo a poder perseguir seus propósitos à sombra da autoridade soberana. O povo, por outro lado, quando não pode resistir aos ricos, procura exaltar e criar um Príncipe dentre os seus que o proteja com sua autoridade."           A dificuldade é maior de manter-se no poder o Príncipe que chegou ao poder através da aristocracia do que o que chegou através do povo, pois a aristocracia se considera igual ao monarca, sendo que o soberano não pode assim dirigi-los ou ordenar em tudo que lhe apraz.
A aristocracia quer oprimir; e o povo apenas não quer ser oprimido. Quem chegar ao poder deve sempre manter a estima do povo, isso será conseguido o protegendo. O povo é quem está com o Príncipe na adversidade, quem o povo está com ele, é difícil derrubá-lo do poder.
Capítulo 10: Como avaliar a força dos Estados
É examinada a situação do Príncipe, se este, em caso de ataque, pode reunir um exército suficiente, e defender-se; ou se não, este não podendo combater, é forçado a refugiar-se no interior de seus muros, ficando na defensiva.
"Portanto, o Príncipe que é senhor de uma cidade poderosa, e não se faz odiar, não poderá ser atacado; ainda que o fosse, o assaltante não sairia gloriosamente da empreitada."
O povo tem enorme influencia para definir o a força de um Estado; se o povo estiver ao lado do Príncipe, mesmo que um dominador consiga tomar o lugar do Príncipe, não se dará bem, pois o povo se levantará contra ele.
Capítulo 11: Os Estados eclesiásticos
Estados conquistados com o mérito ou com a sorte, porém estes não são necessários para conservá-lo, pois são sustentados por antigos costumes religiosos.
"Tão fortes e de tal qualidade são estes que permitem aos Príncipes se manterem no poder qualquer que seja sua conduta e modo de vida. Só esses Príncipes podem ter estados sem defendê-los e súditos sem governá-los; e seus estados, mesmo sem ser defendidos, não lhes são tomados."
Mesmo que chegue um dominador e tente colocar tal estado sob seu poder, se o povo se mantiver unido, este não obterá êxito em sua empreitada; os costumes são fortes e mantêm o povo unido.
Capítulo 12: Os diferentes tipos de milícia e de tropas mercenárias
Na ótica maquiaveliana, a base principal de um Estado são boas leis e bons exércitos. Há três tipos de tropas, são elas, próprias, mercenárias, auxiliares ou mistas. Sendo as mercenárias e as auxiliares prejudiciais e perigosas.
Os soldados mercenários são covardes, seu único motivo pra lutar é o salário, que nunca é o suficiente para que morram pelo Príncipe numa batalha. São dispostos ao Príncipe em tempos de paz, mas ao chegar à guerra, o abandonam.
"E a experiência demonstra que só os Príncipes e as republicas armadas obtêm grandes progressos, pois as forças mercenárias só sabem causar danos; e também que uma republica que tenha exercito próprio se submeterá mais dificilmente ao domínio de um dos seus cidadãos do que uma republica com armas mercenárias."
Os mercenários pensam em si e no que vão ganhar, não no êxito do monarca. O melhor sempre é usar suas próprias armas. A vitória obtida através da força e armas alheias não é uma vitoria genuína.
Capítulo 13: Forças auxiliares, mistas e nacionais
Maquiavel iguala as forças auxiliares com as mercenárias: são inúteis. As tropas auxiliares podem até ser em si mesmas eficazes, mas são sempre perigosas para os que delas se valem se são vencidas, isto representa uma derrota; se vencem, aprisionam quem as utiliza.
Quanto às tropas mistas, Maquiavel diz sê-las mais eficazes que as compostas inteiramente de mercenários ou auxiliares, mas são muito inferiores que um exército inteiramente nacional.
"Um Príncipe prudente, por conseguinte, evitará sempre tais milícias, recorrendo a seus próprios soldados; preferirá ser derrotado com suas próprias tropas a vencer com tropas alheias, vitória que não se pode considerar genuína."
"Em conclusão, nenhum Príncipe pode ter segurança sem seu próprio exército, pois, sem ele, dependerá inteiramente da sorte, sem meios confiáveis de defesa, quando surgirem dificuldades."
Assim como ocorreu com Davi quando Saul o ofereceu sua armadura para que enfrentasse Golias, e Davi preferiu ir com sua funda e um punhal, pois com a armadura de Saul são poderia dar o melhor de si. No entanto as armas alheias nos sobrecarregam e limitam, isso quando não falham. Portanto, o seguro mesmo é ter seu próprio exército e suas próprias armas.
Capítulo 14: Os deveres do Príncipe para com as milícias
O Capítulo inicia mostrando o objetivo ou pensamento principal de um Príncipe, que além da guerra, é também as leis e a disciplina. Esta é a única arte que se espera de quem comanda. Quem negligencia a arte da guerra, perde a consideração e o principal, o Estado.
A caça é indicada por Maquiavel como um ato a ser sempre praticado pelos soldados, para que estes se habituem à natureza das regiões, a posição das montanhas, a abertura dos vales, aos rios, pântanos...
"A fim se exercitar o espírito, o Príncipe deve estudar a historia e as ações dos grandes homens; ver como se conduziram na guerra, examinar as razões das suas vitorias e derrotas, para imitar as primeiras e evitar as ultimas."
Estes são os deveres do Príncipe que nunca deve se acomodar, mesmo nos tempos de paz, mas sempre estar preocupado para que suas tropas estejam em forma quando a sorte mudar, pois como foi dito no Capítulo 3, as guerras não podem ser evitadas.
Capítulo 15: As razões pelas quais os homens, especialmente os Príncipes, são louvados ou vituperados
É citado que levando em conta os Príncipes, uns são tidos como liberais, outros por miseráveis; um, generoso, o outro ávido; um, cruel, o outro misericordioso; um, perjuro, o outro fiel; um, efeminado e pusilânime, o outro bravo e corajoso; humanitário ou altaneiro; lascivo ou casto; franco ou astuto; difícil ou fácil; serio ou frívolo; religioso ou incrédulo...
Maquiavel reconhece que o ser humano não possui a capacidade de ter todas as qualidades acima enumeradas, então, faz-se necessário que o Príncipe tenha a prudência para evitar o escândalo provocado pelos vícios que poderiam abalar seu reinado, evitando os outros se for possível; se não for, poderá praticá-los com menores escrúpulos. Diz ainda Maquiavel:               "Quem quiser praticar sempre a bondade em tudo o que faz está fadado a sofrer, entre tantos que não são bons. É necessário, portanto, que o Príncipe que deseja manter-se aprenda a agir sem bondade, faculdade que usará ou não, em cada caso, conforme seja necessário."
O Príncipe pode até aparentar ter todas as qualidades acima citadas, mas tê-las realmente já poderia tornar-se prejudicial; por isso é necessário que o Príncipe haja de acordo com o momento. Se for necessário usar de bondade, que use; se preciso for a crueldade, que use.
Capítulo 16: A liberalidade e a parcimônia
A liberalidade deve ser praticada de modo apropriado, não sendo reconhecida. Um Príncipe liberal gastará todo o seu tesouro, o que o fará impor pesados impostos ao povo, o que o fará ser odiado pelos seus súditos. E ainda pouco estimado por ter se tornado pobre. E se o Príncipe quiser corrigir sua liberalidade será passado imediatamente por miserável.
"[...] o Príncipe não se deve incomodar de ser tido como miserável, para não ter de onerar demais os súditos, para poder defender-se e para não tornar-se pobre e desprezado,[...]"
Maquiavel nos mostra neste capitulo que para aquele que já é Príncipe a liberalidade é prejudicial, mas para aquele que está a caminho de ser, ser tido como liberal é necessário. É necessário para o Príncipe que esteja à frente do exército e vive do botim de guerra, do roubo e de resgates, pilhando a riqueza alheia. Esbanjar as riquezas alheias não diminui a reputação do Príncipe, mas sim a ergue; apenas esbanjar os próprios recursos que prejudica. E o mais importante é que o Príncipe não seja odiado ou desprezado; a liberalidade leva a uma dessas condições.
Capítulo 17: A crueldade e a clemência. Se é preferível ser amado ou temido
Todos os Príncipes devem preferir ser considerados clementes, e não cruéis. Porém deve se saber usar essa clemência. Quando o objetivo é manter o povo unido e leal, o Príncipe não deve se importar em ser tido por cruel; os Príncipes novos no poder não podem fugir da reputação de cruel, pois estes estados são os mais perigosos.
Seria bom que o Príncipe fosse ao mesmo tempo amada e temido, mas como essa junção é difícil, é preferível que seja temido. Temido de forma que, se não é possível conseguir o amor de seus súditos, se evite o ódio; o que é conseguido não atentando contra as mulheres e os bens dos súditos e cidadãos. Se for necessário que o Príncipe decrete a execução alguém, que este dê um bom motivo.
"Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha."
Quando o Príncipe está à frente do exército deve manter a fama de cruel, ou caso contrario, o monarca não conseguirá comandar com êxito.
O amar vem de acordo com cada homem, mas o temor lhes é imposto; sendo assim o Príncipe deve fazer o uso do que lhe tem nas mãos, e não no que depende da vontade alheia.
Capítulo 18: A conduta dos Príncipes e a boa-fé
É esperado de um Príncipe que mantenha sua palavra empenhada, e viver com integridade e não com astúcia. Todavia nem sempre o Príncipe pode agir com boa-fé, principalmente quando é necessário para isso ele ir contra os próprios interesses e quando os motivos para que mantenha a palavra não existam mais.
Pode-se lutar de duas formas: pela lei e pela força. Sendo a primeira própria dos homens; a segunda própria dos animais. Contudo uma não é duradoura sem a outra. Quando se é necessário que o Príncipe aja como um animal, deve saber agir como o leão e a raposa; o leão para afugentar os lobos e a raposa para fugir das armadilhas.
"[...] é bom ser e parecer piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso; mas é preciso ter a capacidade de se converter aos atributos opostos, em caso de necessidade."
De certo que se não consiga ter todas as qualidades acima citadas, é bom aparentar tê-las; nada é mais necessário do que a aparência da religiosidade. Por tanto:
"Todos veem nossa aparência, poucos sentem o que realmente somos, e estes poucos não ousarão opor-se à maioria que tenha a majestade do Estado a defendê-la."
O que importa para um Príncipe é a aparência que passa para os seus subordinados, muitas vezes sendo o contrário do que pensa o povo, mas conseguindo esconder o que se é de verdade.
Capítulo 19: Como se pode evitar o desprezo e o ódio
Os Príncipes devem tomar o cuidado que suas decisões sejam irrevogáveis, e que as sustente de tal forma que a ninguém ocorra enganá-lo ou deslocá-lo.
Os Príncipes devem se acautelar contra duas coisas: seus súditos e as potências estrangeiras. Contra as potências estrangeiras lhe servirá boas armas e bons amigos; contra as conspirações dos súditos lhe servirá não ser odiado, visto que o conspirador só executará seu plano se pensar que a morte do soberano satisfará o povo.
"Em poucas palavras, do lado do conspirador estão o medo, os ciúmes, as suspeitas, o receio do castigo; do lado do Príncipe há a majestade do poder, as leis, a proteção oferecida pelos amigos e pelo Estado. Quando a esses fatores se acrescenta a estima do povo, é impossível que alguém cometa a temeridade de conspirar."
Os Príncipes sábios tentam sempre não aborrecer os grandes e agradar o povo. Pode-se fazer isso deixando reservado aos grandes as tarefas como os julgamentos isso pra eles é estima, todavia o monarca deve ele mesmo fazer os favores. O Príncipe deve sempre tomar cuidado para não injuriar alguém de cujos serviços se utilize.
Sempre o que conta para o Príncipe é o que seus súditos sentem por ele; se o povo sente ódio ou desprezo, e ainda por cima, não o temem, o Estado será perdido facilmente.                                         Capítulo 20: A utilidade de construir fortalezas e de outras medidas que os Príncipes adotam com frequência
Quando um Príncipe novo chega ao poder deve armar seus súditos, o que lhes imporá que o Príncipe lhes tem confiança, eles assim se tornam leais e os que já eram leais matem sua lealdade. Se o Príncipe novo desarma seus súditos, lhes imporá que não lhes tem confiança, o que provoca ódio contra o soberano.
Todavia se um Príncipe adquire um Estado o adicionando ao seu, é necessário que o desarme, com exceção dos habitantes que estiveram do seu lado na conquista; mesmo esses é necessário que lhes seja cortada a ousadia, arranjando as coisas de modo que o poder militar do novo domínio fique nas mãos de soldados que viviam no Estado antigo, junto ao Príncipe .
Disse Maquiavel: ... o Príncipe sábio deve fomentar astuciosamente alguma inimizade, se houver ocasião para tal, de modo a incrementar sua grandeza superando esse obstáculo.
Quanto às fortalezas, se o Príncipe teme seus súditos mais do que os estrangeiros, deve construí-las; em caso contrário, não. Maquiavel: ... a melhor fortaleza é a construída sobre a estima dos súditos, pois as fortificações não salvarão um Príncipe odiado pelo povo.
Capítulo 21: Como deve agir um Príncipe para ser estimado
Nada faz com que um Príncipe seja mais estimado do que os grandes empreendimentos e os altos exemplos que dá.
Em cada ação o Príncipe deve procurar atrair fama de grandeza e excelência. Sendo que quando algum cidadão faz algo extraordinário, bom ou ruim, o Príncipe deve lhe dar um recompensa ou uma punição que seja amplamente comentada pelo povo. Castigos e recompensas devem estar em perfeito equilíbrio; um superior não pode valer-se apenas de um ou de outro.
É elevada a estima de um Príncipe que age como amigo ou inimigo declarado, não ficando em neutralidade quando dois de seus vizinhos poderosos estão em guerra.
"O que não é amigo pedirá sempre a neutralidade, e o amigo solicitará uma decisão, e a entrada na guerra. Os Príncipe s inseguros preferem geralmente permanecer neutros, pensando evitar perigos presentes, o que o mais das vezes os arruína."
Quando o Estado que o Príncipe apoiou vence, é estabelecido um vinculo forte de amizade e gratidão por parte desse Estado. Contudo quando o Estado apoiado perde, este sempre ajudará e protegerá enquanto puder seu companheiro de uma sorte que poderá mudar.
Príncipe não deve nunca aliar-se a alguém poderoso para causar dano a outrem, a não ser quando for necessário, pois se o aliado vence, o Príncipe fica sujeito ao seu poder.
Os Príncipes devem honrar os que são ativos, melhorando seu Estado. Deve-se entreter o povo com festas e espetáculos em certas épocas; e também o Príncipe dever estar uma vez ou outra em contato com os membros de subgrupos do Estado, mas sempre mantendo sua dignidade majestosa.   Com isso o povo terá sempre prazer em ter tal como seu soberano e sempre estará ao seu lado.
Capítulo 22: Os ministros dos Príncipes
Para conhecer um Príncipe, basta tomar conhecimento dos homens que o cercam, eles causam a primeira impressão do monarca. O monarca sábio escolhe bem seus ministros.
Maquiavel distingue três tipos de mente: um compreende as coisas por si; o segundo compreende as coisas demonstradas por outrem; o terceiro nada consegue discernir, nem só, sem com a ajuda dos outros. O primeiro tipo é o melhor de todo; a segunda também é muito boa, mas a terceira é inútil.
"Toda vez que o Príncipe tem o discernimento para reconhecer o bem e o mal naquilo que se faz ou diz (mesmo que não apresente originalidade de intelecto), identificará as obras boas ou más do seu ministro, corrigindo algumas e incentivando outras."
O ministro que procura sempre em todas as suas ações seu próprio interesse nunca será um bom ministro, não merecendo confiança. Quem é ministro nunca deve pensar em si próprio, mas sim no monarca. Para assegurar a fidelidade do ministro, o Príncipe deve honrá-lo e enriquecê-lo, fazendo lhe favores e atribuindo lhe encargos.
Podemos dizer que se conhece o superior através de seus subordinados.
Capítulo 23: De que modo escapar aos aduladores
Príncipe deve evitar os aduladores as cortes estão cheias , mostrando que não há ofensa em falar a verdade, todavia quando todos podem falar a verdade a uma pessoa, perdem-lhe o respeito. O Príncipe sábio tomará homens sábios como conselheiros, que falarão a verdade ao Príncipe, mas somente quando perguntados e sobre o que perguntados, assim o Príncipe não ouvirá mais ninguém. O Príncipe ouvirá seus conselheiros somente quando quiser e as decisões tomará sozinho.
Príncipe que não é sábio nunca poderá ser bem aconselhado, pois ele ouvirá os conselheiros e não saberá harmonizá-los. Se a sorte lhe dê um orientador ainda poderá se sobressair, mas mais na frente este orientador lhe tomará o poder.
"Os conselheiros pensarão todos nos seus próprios interesses, e o Príncipe será incapaz de corrigi-los, ou de reconhecê-los. Não pode ser de outra forma, pois os homens falam sempre com falsidade, a não ser quando a necessidade os obriga a serem verídicos."
Os bons conselhos nascem da prudência do Príncipe; e que esta não nasce dos bons conselhos recebidos. Tudo vem da capacidade do Príncipe, da sua capacidade de escolha. Em suas decisões o Príncipe deve ser claro e objetivo, mantendo, sempre que possível sua palavra. Um Príncipe que muda a todo o tempo de ideia acaba por deixar o povo confuso, o fazendo perder a confiança.
Capítulo 24: As razões por que os Príncipes da Itália perderam seus domínios
Um novo soberano é sempre mais observado do que um soberano de antiga dinastia; quando o soberano novo faz atos virtuosos, estes cativarão mais os súditos do que os de um monarca de antiga dinastia. Deverá o monarca novo não falhar em outras coisas, fortalecendo seu Estado com boas leis, boas armas e bons exemplos.
"Se considerarmos aqueles senhores que perderam seus estados na Itália de hoje, como o rei de Nápoles, o que de Milão e outros, encontraremos neles em primeiro lugar um defeito comum no que se refere às forças armadas, pelos motivos já amplamente examinados. [...] alguns ou sofriam a hostilidade do povo ou, se o povo lhes tinha estima, não souberam garantir-se contra os nobres."
Quando o Príncipe tem o povo do seu lado, mesmo assim este não pode deixar ser derrubado esperando que o povo venha a reerguê-lo se levantando contra o dominador. Disse Maquiavel: Só são boas, seguras e duráveis aquelas defesas que dependem exclusivamente de nós, e do nosso próprio valor.
Capítulo: 25: O poder da sorte sobre o homem e como resistir-lhe
Na visão de Maquiavel, tudo que acontece conosco é atribuído à sorte, mas metade disso podemos controlar. Para ele a sorte é como um rio, que quando este corre calmamente podemos construir diques e barragens para que quando as águas vierem com fúria, sejam desviadas e seu ímpeto seja menos selvagem e devastador.
"[...] o Príncipe que baseia seu poder inteiramente na sorte se arruína quando esta muda. Acredito que é prudente quem age de acordo com as circunstancias, e da mesma forma é infeliz quem age apondo-se ao que o seu tempo exige."
O tempo vai determinar como que cada Príncipe deve agir, contudo deve-se agir no tempo certo e sempre preparado para quando a sorte variar, assim Maquiavel aconselha ser impetuoso a cauteloso com a sorte.
 Capítulo 26: Exortação à libertação da Itália, dominada pelos bárbaros
Neste ultimo Capítulo Maquiavel expressa o seu anseio pela libertação de sua pátria, a Itália.
"[...] agora, quase sem vida, a Itália espera por quem lhe possa curar as feridas e ponha fim à pilhagem na Lombardia, à rapacidade e à extorsão no reino de Nápoles e na Toscana, curando-a das chagas abertas há tanto tempo. Pede a deus que lhe envie alguém capaz de libertá-la dessa insolência, dessa Barbara crueldade. Esta disposta a seguir uma bandeira, desde que alguém a empunhe."
Maquiavel deixa explícito neste Capítulo que seu desejo é que Lorenzo de Medici se torne o soberano da Itália daqueles tempos, deixando claro também o principal motivo de ter escrito O Príncipe, um manual para que Lorenzo de Medici reine com êxito na Itália:
"Não se deve, portanto deixar que se perca esta oportunidade; a Itália, depois de tanto tempo, precisa encontrar seu libertador."
"Que vossa ilustre família possa, portanto, assumir esta tarefa com a coragem e as esperanças inspiradas por uma causa justa, de forma que, sob sua bandeira, nossa pátria volte a se levantar [...]"

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