sexta-feira, 7 de junho de 2024

A História do Soldado, de Igor Stravinsky. Resumo

 A História do Soldado  Igor Stravinsky 

          Em 1918, Igor Stravinsky escreveu uma de suas mais importantes e conhecidas obras, A História do Soldado.
Stravinsky concebeu sua criação como sendo uma obra praticamente teatral, uma história para ser lida, atuada e dançada.
Foi inspirado em um conto folclórico russo, apesar de a versão final ter sofrido modificações do autor, onde um soldado troca seu violino com o Diabo em troca de um livro que poderia prever o futuro.
É executada com um septeto, violino, contra-baixo, clarinete, fagote, corneta (embora seja diversas vezes trocada por um trompete), trombone e percussão, além disso a história tem três narradores, o soldado, o Diabo e um narrador em terceira pessoa.
A música tem características bastante modernas, pela dificuldade da marcação temporal, é muitas vezes apresentada com maestro, embora algumas “ensembles” prefiram não recorrer a tal ajuda.
A verdade é que ando vidrado em Igor Stravinsky e por isso me sinto na obrigação de vos oferecer a oportunidade de também viciarem-se neste russo malhado.
Vê-se claramente as tendências sex-simbólicas vertendo do maestro, certamente uma inspiração para os futuros roqueiros setecentistas.
Pois bem, agora vamos à História do Soldado.
NARRAÇÃO:  
NO TEMPO MUSICAL
Cansado de caminhar, um soldado volta ao lar.
Vem de muito longe. Andou, andou, muito ele andou.
Só tem dez dias de folga.
Impaciente por chegar e já morto de tanto andar.
ANTES DA CENA 1
O soldado sentou-se à beira de um regato e abriu seu embornal.
“ – Que lindo lugar…, se não fosse esta vida!!!
Sempre marchando, sem nenhum tostão…
Vejam só! Meus trastes todos de pernas pro ar!!!
Até a medalha de São João, meu padroeiro, eu perdi ….. achei, que sorte!!!
Puxa, nada de dinheiro….”
E o Soldado continua a remexer suas coisas, papéis, cartuchos, um espelho que mal refletia sua imagem. A foto da noiva, mas continuou procurando, procurando, até encontrar seu querido violino. Enquanto afina o violino, pensa:
“ – Bem se vê que é ordinário, precisa afiná-lo o tempo todo…”
E começa a tocar…
LER NA CIFRA 17
Eis que surge o Diabo, disfarçado de um velho caçador de borboletas, o Soldado não o viu. O Diabo se aproxima e se coloca atrás dele.
LER ANTES DA CENA 2
“ – Ei, Soldado, me dá esse violino!!!”
“ – Não!!!” – responde o Soldado
“ – Vende então!!!”
“ – Também não!!!!”
O Diabo pega um livro que traz consigo e sugere:
“ – Troca por esse livro.”
“ – Eu não sei ler” – diz o soldado.
Mas o Diabo insiste:
“ – Não é preciso saber ler, quere apostar? Trata-se de um verdadeiro tesouro, é só abri-lo e embasbacar! Jóias, moedas, ouro!!!”
O Soldado pede para ver o livro antes da troca, e o Diabo aceita.
“ – Não adianta tentar ler, soldado, pois não vai entender nada.”
“ – É, eu não entendo nada.”
Mas o Diabo o anima:
“ – Vai, vai folheando, vai folheando…”
O Soldado continua:
“- Mas esse livro vale muito dinheiro, meu senhor, e o violino não me custou quase nada!”
Mesmo assim o Diabo insiste na troca, que finalmente é feita.
O Diabo, após ter tentado tocar o violino, pergunta ao Soldado:
“- Como é, vem comigo?”
“ – Para que, meu senhor?”
“- Você tem que me ensinar a tocar.”
“ – Mas eu só tenho 10 dias de folga.”
“ – Eu te empresto meu carro, não há distância que não vença.”
“- Mas minha mãe e minha noiva estão esperando.”
“ – Logo irá vê-las.”
“ – Mas qual é o caminho?”
“–Irá no meu carro alado, ficará bem hospedado, limpo, descansado, 2 ou 3 dias de passeio extraordinário, e depois, para sempre milionário.”
“ – E o que vamos comer? Pergunta o soldado”
“ – Manjares até não mais poder.”
Arrumando animado suas coisas o Soldado continua:
“ – E prá molhar a goela?”
“ – Vinho velho e delicado.”
“- E a gente pode fumar?”
“- Charutos de Havana, os melhores….”
“- Pois bem, meu senhor, estou a sua disposição.”
“ – Vem comigo, então.”
TOCA MÚSICA - CENA 2
E o velho levou o Soldado consigo, e veremos que disse exatamente a verdade, pois o Soldado João pôde comer e beber a vontade. Foi muito bem tratado e ensinou o velho a tocar o violino para, em troca, o livro poder folhear.
SEGUE MÚSICA - CENA 2
LER APÓS FERMATA DA CIFRA 5, DURANTE REPETIÇÕES DA MÚSICA DE CENA 2
Dois dias o Soldado passou prazenteiro, mas finalmente veio o terceiro quando, assustado com a enlouquecida disparada do carro alado, vê-se em seu velho lar e reconhece seus amigos e familiares que não lhe dirigem nem mesmo uma palavra. João fica muito perturbado:
“ – Não foram 3 dias, mas 3 anos!!! Tomam-me por um fantasma, não passo de um morto entre os vivos. Devia ter desconfiado dele, mas fiquei a ouvi-lo como um pateta, e até meu violino eu entreguei. Desgraçado de mim o que é que eu vou fazer???”
Enquanto isso, agora disfarçado de negociante, o Diabo se aproxima sem o Soldado perceber.
CENA II DA 6
Então, vendo o Diabo, parte em sua direção para o ataque, mas este, com grande lábia, ilude novamente o Soldado mostrando-lhe seu violino e dizendo:
“ – O que é meu é meu, o que é teu é teu . Agora cada um com o que é seu.”
SUONA DA 6
João começou a ler o livro, e o resultado foi cada vez mais dinheiro, dinheiro, dinheiro. Leu quanto pode e tirou quanto quis e com todo aquele dinheiro pensou logo em negociar, artigos de senhoras primeiro. E assim foi só começar. Mas, arrependido começa a pensar.
“ –Ah!!! Meus fins-de-semana, minhas noites de sábado, quando as moças regavam o jardim… As meninas brincavam de cabra cega, a gente atravessava o portão, sentava-se na relva, tomava um refresco. Ah! As coisas simples, as únicas que falam ao coração. Eles não têm nada e têm tudo, e eu, que tenho tudo, nada tenho!!! Nada, nada, e não posso voltar atrás. Satã, tu me roubaste!!! O que fazer? Será que o livro explica? Ei livro, pode me responder o que fazer para ser feliz??? O que fazer para nada ter??? Você deve saber… o que fazer para retroceder???”
Então ouve a voz de uma velhinha com várias coisas a vender, inclusive um violino que muito lhe interessa. O Soldado João tenta tocar, mas o violino permanece mudo. Ele procura a velhinha, que era novamente o diabo disfarçado, mas ele sumiu, e João irritado atira o violino ao chão.
CENA III – PARTE 2 – MARCHA DO SOLDADO
Cansado de caminhar, o Soldado segue em frente. Aonde ele vai assim? Anda há tanto tempo! Passa o riacho e depois a ponte. Aonde ele vai? Alguém sabe?
Nem mesmo ele sabe para onde ir, pega então outra estrada, sem suas riquezas, tentando ser de novo como outrora. Eis que surge um outro lugar, uma linda cidade, um bar, que felicidade!!! Beber um trago, que tal??? Um golinho não faz mal. E olhando para fora, pôs-se a contemplar a paisagem, o leve tremer da folhagem, muito suave àquela hora. De repente ouve-se o rufar de um tambor.
CAIXA ENTRA
É o Rei desesperado com o grave estado de sua filha! Ela está enlouquecendo de dor! O Rei anuncia que dará a mão da princesa àquele que a curar.
PARADA DA CAIXA
Neste momento João ouve uma voz a lhe falar:
“ –Que tal a princesa? Vai lá e banca o médico, nada irá arriscar, diga: ‘Sou médico militar’. Mesmo que não dê certo, vale a pena tentar… ”
Por que não? O Soldado ergue-se animado e vai embora sem demora. E nos jardins do Palácio os guardas lhe perguntam:
“ –Onde vai com tanta pressa?”
“ –À casa do Rei, ora essa!!!”
TOCA A MARCHA REAL
LER ANTES DO PEQUENO CONCERTO
Mandaram tocar a música na chegada do Soldado ao Palácio, ele foi muito bem recebido, até que o Rei chegou e perguntou se ele era médico, João respondeu: sou médico militar. O Rei estava desanimado, pois vários médicos tentaram curar a princesa, mas todos fracassaram, João lhe garantiu que tinha um remédio infalível. Então o Rei lhe disse:
“ – Amanhã verá minha filha.”
Durante a noite João fica num quarto brincando com um baralho e pensando:
“ –Vou me casar com a Princesa, que além disso é uma beleza…”
Ao pensar, isso ouviu uma voz muito conhecida dizendo:
“ –Alguém chegou primeiro…”
Era o Diabo com o violino.
“ –Está perdido meu amigo, pois o remédio está comigo.”
E o Soldado cabisbaixo reconhece que o Diabo tem o poder, pois ele tem o remédio e João nada pode fazer.
Novamente João ouve alguém falando para ele.
“ –Vamos, você tem que dominá-lo, ele está te dominando porque você está com o dinheiro, jogue com ele e deixe-o ganhar.”
Começa o jogo, e o Soldado propositadamente perde todas as partidas, e à medida que o Diabo vai ganhando, vai perdendo suas forças. João dá bebida ao Diabo que está cada vez mais fraco. João tenta pegar o violino, mas o diabo ainda não bebeu o suficiente, João vira vários copos na boca do Diabo, que finalmente cai desmaiado.
Novamente a voz fala a João:
“– Vamos, Soldado, recupera o que é teu!!!”
O Soldado pega o violino e começa a tocar.
TOCA PEQUENO CONCERTO
LER CIFRA 28
“–Senhorita, agora já se pode afirmar que com certeza vai sarar, vamos depressa vê-la, pois que já podemos tê-la, e quando a encontrar é só chegar e ousar, vou correndo para lá, sou forte. Saí do inferno, vou tirá-la da morte”.
João entra no quarto e vê a Princesa deitada na cama, sem se mexer. Ele pega o violino e começa a tocar.
LER ANTES DA CIFRA 4
A Princesa abre os olhos, vira-se para o Soldado e senta-se na cama.
TOCA O TANGO, VALSA E RAGTIME
LER ANTES DA DANÇA DO DIABO
O Soldado e a Princesa estão se beijando no quarto, quando ouvem gritos horríveis vindos do lado de fora. É o Diabo que entra no quarto, dessa vez sem nenhum disfarce, e fica rodeando o soldado e suplicando para que ele lhe dê o violino e algumas vezes tenta arrancar o instrumento à força. A Princesa refugia-se atrás do Soldado de maneira a conservar-se escondida atrás dele. O Diabo, ora recua, ora salta e o Soldado começa a tocar o violino.
TOCA MÚSICA DANÇA DO DIABO
LER ANTES DO PEQUENO CORAL
Em vão, o Diabo tenta unir as pernas com as mãos. Cai no chão. O Soldado toma a Princesa pela mão, vê-se que ele não tem medo e dança com ela em volta do Diabo.
A Princesa pega o Diabo por uma das patas, ambos o arrastam para fora do quarto.
Livres do Diabo voltam a se abraçar.
TOCA O PEQUENO CORAL
LER DURANTE A CANÇÃO DO DIABO
“ –Está bem, por enquanto.” – diz o Diabo – “Mas o reino não é tão grande assim, e quem a fronteira passar em meu poder há de ficar. Melhor não ir além do permitido, senão a bela Princesa terá que voltar ao leito, e quanto ao Príncipe, seu bom marido, é bom que se disponha a andar, pois sei de um lugar, bem profundo, onde bem vivo vai assar.”
TOCA CORAL
LER NA FERMATA 1
Não se pode querer tudo ao mesmo tempo. Impossível viver no passado e no presente. É preciso saber escolher e não tudo querer obter. Pois a verdadeira ventura é uma somente.
Agora tenho tudo, pensa o Soldado. Até que um dia, a Princesa lhe diz:
“ – Eu não sei nada de você, conta para mim, me fala um pouco de você.”
“ – Há muitos anos passados, no tempo que eu era soldado, vivia com minha mãe num lindo lugarzinho, longe, bem longe daqui, mas esqueci o caminho.”
“ – E se a gente fosse lá?” – sugere a Princesa.
“ – Você sabe que é proibido.”
“ –Mas nós voltamos logo e ninguém saberá do acontecido. Vai, confessa. Você bem que gostaria de ir. Sim, você está louco para voltar, estou lendo nos teus olhos, não adianta negar.”
O Soldado acha que não convém arriscar, mas lembra-se da mãe, tem esperança de que ela o reconheça e venha morar com eles. Então eles decidem ir para a cidade. Na pressa de chegar, ele atravessou a fronteira sem perceber que a princesa havia ficado para trás.
Ao atravessar a fronteira, o Diabo apareceu diante dele, estava com o violino novamente e começou a tocar a Marcha Triunfal do Diabo.
COMEÇA A MÚSICA
O Soldado abaixa a cabeça e põe-se a seguir o Diabo. A Princesa o chama, ele pára um instante, mas prossegue, pois nada pode fazer, está sob total domínio do diabo novamente.
FIM.
A principal característica de grandes obras, sejam musicais, literárias ou, como neste caso, uma mescla das duas juntamente com a dança, é o fato de promoverem uma reflexão atemporal. No caso de “A história do Soldado”, a primeira e talvez a mais aparente crítica de Stravinsky está justamente na guerra. Datando do fim da primeira grande guerra, Igor estava carregado de indignação perante as inúmeras mortes de soldados russos, por isso, ao caracterizar o soldado João, logo troca o seu rifle pelo violino.
O Aristofonia Crew tem o prazer de apresentar a seguir um trexo da entrevista feita com o próprio Stravinsky durante uma sessão de ressurreição assistida pelo grupo de batuque Príncipe Custódio de Xapanã pelo pai-de-santo Jorginho Ijexáoyó:
“Estava na primavera de 1917, quando comecei a pensar nesta obra, embora na época eu não consegui começar fazer nada, já que eu estava debruçado sobre Les Noces e sobre o poema sinfônico Rossignol. Depois da guerra, eu tive a intenção de escrever um espetáculo dramático para um teatro ambulante. Como eu tinha pensado na ocasião, seria um grupo pequeno de intérpretes para poder realizar uma tournée no interior da Suíça. A historia que me seduziu era de um soldado russo que desejava fazer com que o Diabo bebesse muita Vodka. Eu descobri outras histórias que envolvia um soldado e o Diabo, e resolvi então colecionar estas histórias. A compilação dos diversos textos foi feito por Afanasiew, que os recrutou entre os camponeses logo após a guerra russo-turca e por mim mesmo, mas o libretto foi escrito por Charles-Ferdinand Ramuz. Eu trabalhei com ele traduzindo o meu texto russo palavra por palavra. Os textos são efetivamente cristãos, e o Diabo é o Diabulus da cristandade, um personagem vivo, multifacetado. A primeira idéia era transportar o período e o estilo de nossa peça para uma época indeterminada, por volta de 1918 não importa que país, sem tocar no aspecto relígio-cultural do Diabo. O soldado estará uniformizado como um simples soldado do exército suíço em 1918. Os nomes nos locais como Denges e Denezy, são fictícios. Embora a peça seja neutra, nosso soldado é definitivamente visto como a vítima do conflito mundial em curso na época. Esta obra está entre minhas obras cênicas com alusão contemporânea”.
Disponível em:

Cândido ou O Otimismo, de Voltaire - Resumo/Comentário

           Continuando com os textos resumidos para leitura, consegui o Resumo do Livro de Voltaire.   Claro que o ideal é a leitura da obra completa, mas... 

Cândido Ou O Otimismo        (Voltaire)              

Tudo o que nos acontece é o melhor que poderia nos acontecer. Demos graças a Deus.
O conselho de Pangloss a Cândido pouco aliviou a dor do jovem que acabara de ter a noiva estuprada por 12 mo.
A agonia de uns pode dar prazer a outros e a terceiros representar os fados da existência.
Nem é só se lhe parece, nem é apenas a crueza dos dias penumbrosos. Mas... é a vida.

      Cândido seguiu viagem com a amada, a bela Cunegundes, não muito satisfeito com os conselhos panglossianos.
Não deixará de ser otimista, mas começa a pensar na necessidade dedar bons cuidados ao bem, que há de ser encontrado.

            O Filósofo Ignorante, Ou as reflexões filosóficas de Voltaire sobre a existência do mal no mundo e a fragilidade humana é um estudo de Marcelo Xavier (marcelo@rabisco.com.br) a partir de Cândido.
Em1755, Lisboa é destruída por terremoto cuja violência impressionou a Europa. Goethe escreve:  porventura em algum tempo o demônio do terror espalhou por toda a terra, com tamanha força e rapidez, o arrepio do medo?. A natureza do evento influencia o pensamento do filósofo François-Marie Arouet, o Voltaire (1694-1778).  Escreveria ?  Um dia tudo estará bem, eis nossa esperança / Tudo está bem hoje, eis nossa ilusão?.  Os terremotos não tinham ainda causas totalmente conhecidas. Voltaire transformaria a catástrofe no exemplo para criticar o paradigma do "otimismo filosófico" e a doutrina da "Providência Divina". Vigia a "tradição" oriunda de Leibniz dado mal ser elemento necessário de uma perfeição da qual conhecemos somente parte do todo... todo mal particular concorria para o bem universal. Desta forma, se Deus escolheu este mundo num conjunto para dar a existência, devemos acreditar que este é o  melhor dos mundos?. A concepção é rechaçada  por Voltaire... Se tudo está bem, qual é o significado da tragédia? Se o mundo está em ordem, nada garante que a ordem se faça para o bem-estar do homem. E quanto aos inocentes?

Ou, por que Lisboa e não Paris ou Londres?...Se o mundo é um vale de lágrimas, então o universo contradiz o otimismo: como compreender um Deus bondoso que permite a existência do mal? Voltaire cita Epicuro em sua exortação a Lisboa ao concluir que ou Deus quer impedir o mal e não pode, ou pode e não quer, ou nem quer e nem pode. Mas, se quer e não pode, não é Deus; se pode e não quer, não é bom, o que é contrário a Deus...
Para Voltaire, o mal era a razão corrompida.

A teoria providencialista e a ciência explicam o incidente em Lisboa, mas não o demovem da idéia de que o terremoto é um exemplo da ruptura da razão, um exemplo de como o ser humano é frágil e vive num lugar onde tudo pode acontecer, sem que possamos fazer nada.

A partir disso Voltaire concebe Cândido. A alegoria é pretexto para a investigação filosófica... Afirmar que Deus tem um plano-mestre para o mundo, além de idéia absurda, nos faz cair em contradições se analisarmos sobre a questão do mal. Cândido é um jovem criado por Pangloss, seu preceptor, que lhe oferece uma visão otimista de que todos vivem no melhor dos mundos. Um dia, eles são expulsos do castelo onde viviam, e passam por terríveis atribulações - entre elas, Cândido presencia a destruição de Lisboa. O jovem conclui que, onde quer que esteja, o mal está por toda parte. A solução é cultivar o jardim? e trabalhar a fim de suportar todos os revezes, de forma a tornar a existência um pouco mais suportável. Ceticismo? Não de todo, pelo menos no sentido original. O ceticismo clássico não acreditaria na razão e na ciência. Na verdade, Voltaire inventaria ali o filósofo ignorante?. Porém, essa ignorância seria o reconhecimento dos limites da razão humana em debater-se sem jamais encontrar uma resposta satisfatória. Ao filosofar sobre o mal em Cândido, por exemplo, ele conclui que  cultivar o jardim e trabalhar?  não seria uma forma de resignação, mas o reconhecimento da ignorância? contra o otimismo e a aceitação de que o mundo não seria tão mau quanto parece. De acordo Maria das Graças do Nascimento, em Cândido existem três alternativas para se responder ao problema do mal. A primeira reside no pensamento mágico de Pangloss, onde os males são necessários em favor do bem maior, tese contestada pelo conto. Se tudo foi feito por Deus tendo em vista um fim, esse fim é, necessariamente o melhor?, diz. A segunda aparece na boca de Martinho, companheiro de Cândido. Para ele, tudo no mundo é regido por dois princípios, o bem e o mal, sendo que o segundo se sobrepõe sempre ao primeiro, ou recalcando qualquer bem incluso no curso dos acontecimentos. A última alternativa, por sua vez, é apresentada por um religioso muçulmano. Cândido e Pangloss perguntam a ele o motivo de existir tanto mal sobre a terra. O homem responde: ?por que vocês se preocupam tanto com isso??.Se não há certeza dos fins e meios do plano-mestre divino, é preciso que os homens trabalhem, com os elementos que a sua razão contingente e humana lhe permite. E se o terremoto lusitano que atemorizou Goethe renovou o misticismo da velha alma gentil portuguesa, encontrou um inimigo desse pensamento mágico no Marquês do Pombal, todo-poderoso secretário de Estado de D. José I, que reconstruiu Lisboa com grande em singela homenagem à razão... demasiadamente humana no filósofo francês
                http://resumos.netsaber.com.br/ver_resumo_c_46143.html  - Acessado em 13 04 20 às 20:40Hs.

2o Resumo 
Cândido ou o otimista - Voltaire
O MELHOR DOS MUNDOS
“... as coisas não podem ser de outro modo: pois, como tudo foi criado para uma finalidade, tudo está necessariamente destinado à melhor finalidade.”
Cândido ou o otimista   (Voltaire)

Cândido vive como agregado no castelo de um dos homens mais poderosos do local e tem como preceptor o mestre Pangloss. Durante toda sua vida aprendeu que deveria compreender todos os acontecimentos da melhor forma possível, pois nasceu como uma inserção possível no melhor dos mundos, e alimenta sua grande paixão por Cunegundes, filha do Barão que o abriga.
O enredo nos surpreende com uma sucessão de desgraças: Cândido é expulso do castelo por ser surpreendido no único encontro com Cunegundes, Mestre Pangloss é enforcado, dissecado e reaparece vivo com explicações absurdas, Cunegundes se prostitui, envelhece carcomida por infortúnios... Os personagens cruzam o mundo em busca de um encontro possível, mas estão naufragados num mar de otimismo irracional.
O leitor é contagiado pela ironia de Voltaire. As diferenças sociais, os preconceitos, os idealismos exacerbados, as guerras permanentes e não motivadas, os inocentes, a corrupção... Ricos argumentos para a vida de Cândido que teima em “sustentar que tudo está bem quando tudo está mal”, segundo os ensinamentos de Pangloss.
O velho sábio Martinho enriquece as vivências de Cândido. Surge como acompanhante e transforma-se no contraponto necessário às percepções que só encontram alicerces na filosofia ministrada por Pangloss. No trajeto final, é o olhar realista das sombras fragmentadas de desgraças e realizações que insistem em manter os caminhos primitivos e sacramentam, definitivamente, a impossibilidade de uma visão conformista e otimista.
Martinho é maniqueísta e não espera coisa alguma do mundo ou das pessoas. Seu olhar é realista, apesar de tão aviltante. “Por toda a parte os fracos abominam os poderosos perante os quais rastejam, e os poderosos os tratam como rebanhos de que vendem a lã e a carne”
“- Que mundo é este?” A indagação costura as mazelas do protagonista e encontra diversas respostas: “o melhor dos mundos possíveis” de Pangloss ou “alguma coisa de louco e abominável” de Martinho.
A grande lição é dada pelo velho turco que passou a vida cuidando de sua família dentro dos limites de sua propriedade: “aqueles que se metem em negócios públicos acabam miseravelmente”. A vida de sua família está em harmonia: plantam e colhem os frutos do trabalho no pequeno sítio. O homem, distante das pretensões intelectuais, ensina aos filhos que o trabalho afasta os três grandes males: “o tédio, o vício e a necessidade”.
Cândido retorna para a propriedade. Sua vida realizou-se à margem do ideal. Cunegundes, a donzela desejada, só se transformou em realidade quando já velha e gasta. Os sábios ainda tentam travar os embates filosóficos, contudo, a platéia sucumbiu às intempéries sem âncoras previdentes. Os personagens enforcaram-se nos nós cotidianos, dissecaram suas intimidades nas possíveis relações e se iludiram com ideais extemporâneos.
“O melhor dos mundos possíveis...” Após ouvir que todos os acontecimentos estavam encadeados da melhor forma possível no melhor dos mundos. Cândido encerra nossa leitura: “Tudo isso está bem dito... mas devemos cultivar nosso jardim.”
Voltaire escreveu “Cândido ou o otimista” quando conseguir superar todas as prisões, intrigas e infortúnios que marcaram sua história. Nos últimos vinte anos, viveu em companhia da sobrinha num domínio de Ferney, na província de Gex, quando transformou a fazenda maltratada numa terra produtiva. Cândido e Pangloss foram concebidos neste período de estabilidade, quando o escritor elaborou suas vivências e conhecimentos, costurando uma de suas obras mais conhecidas e respeitadas.
Contudo, Voltaire permanecia envolvido com os “negócios públicos”: ao defender a família de um jovem que se suicidara, Calas, iniciou uma luta por todos os que lhe pareciam injustiçados, incluindo a defesa do jovem La Barre, acusado de mutilar crucifixos.
Muitos sábios como Pangloss sobrevivem e espalham suas idéias otimistas, tentando ludibriar cândidos e inocentes com a certeza dos melhores mundos. Diversos artigos e ensaios costuram os personagens de Voltaire em contextos econômicos e sociais atuais e tentam satirizar alguns protagonistas contemporâneos. Alguns meios de comunicação sustentam que tudo está bem quando tudo está mal.
Mas... Infelizmente estes são os negócios públicos que causam a miséria aos que se envolvem sem defesas e com fortes idealismos. Na construção do mundo possível, o homem deve se estruturar com todas as ferramentas ao seu alcance. Uma ampla visão da humanidade, suas contradições e convergências, e uma segura restrição de sua inserção nas causas sociais nas possibilidades de realizações e conquistas pessoais. O homem é a realidade que laborada com empenho gera frutos e escreve a verdadeira filosofia com atitudes legítimas.
O mundo não é bom ou mau, é apenas um mundo que deve ser encarado com força e coragem.
Tudo está bem dito. E você, leitor, já cultivou o seu jardim?

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 13/05/2005
Código do texto: T16721

https://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/16721 - Acessado em 13 04 20 às 20:50 Hs.

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