O Príncipe de maquiavel é dirigido a
um Príncipe que esteja governando um Estado, e o aconselha sobre como manter seu
governo da forma mais eficiente possível. Essa eficiência é a ciência política
de Maquiavel.
A presente obra é um livro de
orientação prática de algumas ações políticas que o Príncipe deve fazer para
conquistar e se manter no poder. O escrito se desdobra em 26 Capítulos.
Carta Dedicatória
Maquiavel, Nicolau dedica sua obra a
Lorenzo de Medici (Lorenzo II), neto de Lorenzo, o Magnífico; apesar de pouco
tempo antes ter sido preso e torturado, sob suspeita de participar de uma
conjura contra os Medici, mas teve sua inocência reconhecida.
Quando Maquiavel foi apresentar O
Principe a Lorenzo II em 1515, este o acolheu com frieza.
Diz na dedicatória:
"Embora julgue este trabalho
indigno de vossa presença, ainda assim confio que, por vossa humanidade, possa
ser aceito, considerando que eu não vos poderia fazer melhor presente que vos
dar a faculdade de entender em muito pouco tempo o que aprendi e compreendi em
muitos anos, com tantas provações e perigos para mim mesmo."
O motivo que levou Maquiavel a
dedicar o livro a Lorenzo é mostrado no último capitulo da obra.
Capítulo 1: Os vários tipos de
Estado, e como são instituídos
Apresenta dois tipos de principados o
hereditário e o adquirido, e apontam quais são as duas formas de como o
governante chega ao poder uma pela virtude e outra pela fortuna.
"Os principados ou são
hereditários, quando por muitos anos os governantes pertencem à mesma linhagem,
ou foram fundados recentemente."
Capítulo 2: As monarquias
hereditárias
Neste Capítulo Maquiavel fala que a dificuldade de
se manter um Estado novo é maior do que a de se manter um Estado hereditário,
pois quanto a este último, o povo já está acostumado com a soberania de uma
família, de uma linhagem.
"[...] a dificuldade de se manter Estados
herdados cujos súditos são habituados a uma família reinante é muito menor do
que a oferecida pelas monarquias novas. Basta para isso evitar transgredir os costumes
tradicionais e saber adaptar-se a circunstâncias imprevistas."
Se um Príncipe conquista
determinado Estado e tenta mudar seus costumes, corre o risco de o povo
revoltar-se contra ele, o que pode gerar conspirações apoiadas pela grande
massa o povo. Deste modo, o Príncipe respeitando a
cultura local, se manterá no poder; a menos que, como diz Maquiavel, uma força
excepcional o derrube, porém, se tal fato ocorrer, poderá reconquistá-lo na
primeira oportunidade oferecida pelo usurpador.
Maquiavel ainda fala que na medida em que o soberano não ofende seus
súditos e não mostra motivos para o povo odiá-lo, estes o quererão bem, e mais:
"[...] qualquer alteração na ordem das coisas
prepara sempre o caminho para outras mudanças, mas num longo reinado os motivos
e as lembranças das inovações vão sendo esquecidos."
Quando o povo vive do seu modo, com seus costumes e
sendo respeitado pelo monarca, este se acomoda de tal forma que as lembranças,
os desejos de mudanças vão sendo postos em esquecimento.
Capítulo 3: As monarquias mistas
Maquiavel mostra neste Capítulo que o povo tem
sempre o desejo de mudança, desejo de melhoria; as pessoas, segundo Maquiavel,
mudam com grande facilidade de governantes esperando tal mudança, que, no
pensar de Maquiavel, é sempre para pior.
Para ele, o Príncipe sempre precisará do
favor dos habitantes de um território para poder dominá-lo. A imposição do novo
governo ou provocações vindas dos soldados do monarca, ou outros motivos, podem
gerar injúrias no povo, gerando, assim, inimigos para o Príncipe, que são as pessoas
ofendidas com a ocupação do seu território.
"[...] depois de conquistado uma segunda vez,
os territórios rebeldes não voltam a ser perdidos com a mesma facilidade. A
própria rebelião faz com que o monarca se sinta inclinado a fortalecer sua
posição punindo os rebeldes, desmascarando os suspeitos, revigorando seus
pontos fracos."
Quando se é conquistado um território de mesma
região e língua, é mais fácil de dominá-lo do que se não os fosse, ainda mais
se este povo não estiver habituado com a liberdade. O novo Príncipe deve extinguir toda
a linhagem de seus antigos governantes, mas não pode deixar que haja
divergência de costumes; deve também o Príncipe fazer a manutenção
das leis e dos tributos.
Ao se conquistar uma província com língua, leis e
costumes diferentes, um dos meios mais seguros, segundo Maquiavel, é que o
monarca vá pessoalmente habitá-lo. Estando o soberano presente, os distúrbios
serão logo percebidos e rapidamente corrigidos. . Outra forma seria de se estabelecer
colônias em um ou dois lugares estratégicos na província, tomando as casas das
pessoas que vivem neste local por ser uma pequena parte da população, em nada
representarão perigo ao monarca. A grande maioria da população também não fará
mal ao Príncipe , ao contrário, se sentirá grata pelo fato de o monarca os deixar em paz
e não quererão ofender o soberano.
Disse Maquiavel: Note-se que é preciso tratar bem
os homens ou então aniquilá-los. Eles se vingarão de pequenas injurias, mas não
poderão vingar-se de agressões graves; por isso, só podemos injuriar alguém se
não temermos sua vingança.
O Príncipe de um território estrangeiro deve
liderar e defender seus vizinhos mais francos e procurar debilitar os mais
poderosos. Não há dificuldade para se conquistar um território onde movidos
pela inveja dos que tinham o poder, os habitantes menos poderosos apoiam o
invasor; porém deve-se ter cuidado para que estes não adquiram poder e
autoridade em demasia.
Disse Maquiavel: ... as guerras não podem se evitadas e que, quando adiadas, só trazem benefícios para o inimigo. . A guerra é inevitável, então, quando se tem a oportunidade de enfrentar o inimigo, deve-se enfrentá-lo, quanto mais se adia uma batalha, mais o inimigo fica preparado, portanto, adiar uma guerra só traz sempre prejuízos ao monarca.
Capítulo 4: Por que o reino de Dario, ocupado por
Alexandre, não se rebelou contra os sucessores deste, após a sua morte
Sempre os reinos foram governados de duas formas:
por um Príncipe e seus assistentes; ou por um Príncipe e vários barões,
esses barões são ligados ao Príncipe por laços de
natural afeição. Estes que estão de junto ao Príncipe, são os nobres, os
prestigiados; mas dentre esses sempre há quem aspire por inovações. Estes podem
abrir caminho para um invasor tomar o poder, facilitando sua vitória, vê-se
assim que depois não bastará aniquilar apenas família do Príncipe , mas também os
nobres que estarão sempre prontos a liderar novas revoluções.
Capítulo 5: O modo
de governar as cidades ou Estados que antes de conquistados tinham suas
próprias leis
Ao se dominar um Estado acostumado com a liberdade,
e com suas próprias leis, Maquiavel mostra três formas e mantê-lo: primeira,
arruinando-o; segunda, habitando-o (ver Capítulo III); terceira, permitindo-lhe
que viva seguindo suas próprias leis, pondo-lhe tributos e pondo ali um governo
de poucas pessoas que sejam mantidas amigas.
"[...] a cidade habituada à liberdade pode ser
dominada mais facilmente por meio dos seus cidadãos do que de qualquer outra,
desde se queira preservá-la."
Quem se torna o senhor de uma cidade livre, e não
aniquila, pode esperar ser destruído por ela, pois sempre haverá motivo para
rebelião em nome da liberdade perdida e das suas eventuais tradições, que nem o
curso do tempo nem os benefícios conseguem apagar.
Por isso se diz que é melhor respeitar os costumes
do território conquistado, ou então, destruí-lo. Sempre estarão na mente do
povo seus antigos costumes, e, mais cedo ou mais tarde estes se revoltarão
contra o que está sendo imposto, e não haverá benefício ou tempo, como disse
Maquiavel, que os faça esquecer, ainda mais se o povo estiver junto.
Quando um estado está habituado a viver sob o
governo de uma linhagem de Príncipes que tenha
sido extinta, seu povo não entrará em acordo para a escolha de um soberano;
assim é fácil, pois, dominá-los, pois este povo não sabe viver em liberdade.
"Nas repúblicas, por outro lado, há mais
firmeza, brio, maior ódio, e desejo de vingança; não poderão abandonar a
memória de sua antiga liberdade. Assim, o meio mais seguro de dominá-las será
devastá-las, ou nelas habitar."
Esses ensinamentos de Maquiavel nos mostram que o Príncipe , sempre mais que
tudo, deve manter o povo, diríamos talvez que, inconsciente , enganados com a
situação de que tudo está bem e de que o Príncipe é bom; quando não
se pode dar essas impressões ao povo segundo Maquiavel deve-se aniquilá-lo para
que o poderio do monarca continue, pois caso o contrário, o povo se revoltará,
derrubando o monarca.
Assim o monarca deve sempre procurar estar bem com
o povo, pois este último tendo consciência ou não, é sempre a força maior;
apesar de sempre ser a classe inferior. O que seria de um reino sem povo? Quem
pagaria os tributos? Quem trabalharia pra sustentar os luxos do Príncipe? Quem seria governado?
O Príncipe só é Príncipe quando tem quem governar.
Capítulo 6: Os novos domínios
conquistados com valor e com as próprias armas
Os homens sempre procuram seguir os caminhos
percorridos por outrem, pondo em prática seus atos que deram certo e evitando
praticar seus passos que não deram certo. Os que se tornam Príncipes por seu
próprio valor e com suas próprias armas, se tornam Príncipes com dificuldade,
mas mantêm facilmente seu poder. Segundo Maquiavel, as dificuldades se originam
em parte nas inovações que são obrigados a introduzir para organizar seu
governo com segurança.
"Vale lembrar que não há nada mais difícil de
executar e perigoso e manejar (e de êxito mais duvidoso) do que a instituição
de uma nova ordem de coisas. Quem toma tal iniciativa suscita a inimizade de
todos os que são beneficiados pela ordem antiga, e é defendido tibiamente por
todos os que seriam beneficiados pela nova ordem alta de calor que se explica
em parte pelo medo dos adversários, quem têm as leis do seu lado, e em parte
pela incredulidade dos homens."
Quanto a isso, Maquiavel diz que a natureza dos
povos é lábil: é fácil persuadi-los de uma coisa, mais é difícil que mantenham
sua opinião. E que convém ordenar tudo de modo que, quando não mais
acreditarem, se lhes possa fazer crer pela força.
Quem com suas próprias armas consegue algo,
valoriza mais do quem conquista com armas alheias.
Capítulo 7: Os
novos domínios conquistados com as armas alheias e boa sorte
Quem chega ao poder em troca de dinheiro ou pela
graça alheia, com muita dificuldade manter-se-á no poder. Só com muito engenho
e valor poderá se manter.
"Além disso, os Estados criados subitamente
como tudo o mais que na natureza nasce e cresce com rapidez não podem ter
raízes sólidas, profundas e ramificadas, de modo que a primeira tempestade os
derruba. A não ser que, conforme já disse, a pessoa que chegou ao poder tenha
tanta virtude que saiba conservar o que a sorte lhe concedeu tão de súbito,
estabelecendo, em seguida, as bases que os outros precisam erigir antes de se
tornarem Príncipes."
Chegar ao poder dessa forma, é chegar despreparado,
sem raízes; quem não cuidar de procurar se estabilizar, valorizar, tornar-se
astuto, perderá o Estado. Ou no caso se é possível prever, se deve suprir essas
carências bem antes.
Capítulo 8: Os que
com atos criminosos chegaram ao governo de um Estado
Maquiavel cita dois exemplos de pessoas que se
tornaram Príncipes por meio do crime, o primeiro, o de Agátocles após tantas traições
e tão grande crueldade que além de ter obtido êxito na conquista, conseguiu se
manter no poder por muito tempo; Maquiavel explica esse fato ao de que
Agátocles usou da crueldade apenas uma vez: para chegar ao poder. Chegando ele
lá, foi diminuindo sua crueldade de modo a ser querido por seu povo.
O segundo exemplo é o de Oliverotto de Fermo que
com tamanha crueldade chegou ao poder, e lá se manteve cruel, o que fez com que
pouco tempo depois, este fosse derrubado do poder e morto por César Borgia,
juntamente com seu mestre em virtudes e atrocidades Vitellozzo.
"Não se pode, contudo, achar meritório o
assassínio dos seus compatriotas, a traição dos amigos, a conduta sem fé,
piedade e religião; são métodos que podem conduzir ao poder, mas não à
glória."
"[...] ao tomar um Estado, o conquistador deve
definir todas as crueldades que necessitará cometer, e praticá-las todas de uma
vê, evitando ter de repeti-las a cada dia; assim tranquilizará o povo, ao não
renovar as crueldades, seduzindo-o depois com benefícios. Quem agir
diferentemente, [...], estará obrigado a estar sempre de arma em punho, e nunca
poderá confiar em seus súditos, que devido às contínuas injúrias, não terão
confiança no governante."
"Os benefícios, por sua vez, devem ser
concedidos gradualmente, de forma que sejam mais bem apreciados."
O Príncipe deve sempre agir pensando no povo,
pois na verdade é o povo quem detêm o poder e a força. Com um monarca cruel, o
povo se torna amedrontado e injuriado, acabando por se reunir e destruir seu
poderio. Porém quando os benefícios vêm, o povo se sente feliz e quer bem o
monarca, o que diminui consideravelmente a possibilidade de conspiração.
Capítulo 9: O
governo civil
a visão de Maquiavel, governo civil é governo em
que o cidadão se torna soberano pelo favor de seus concidadãos.
"O governo é instituído pelo povo ou pela
aristocracia, conforme haja oportunidade para um ou para a outra. Quando os
ricos percebem que não podem resistir à pressão da massa, unem-se, prestigiando
um dos seus e fazendo-o Príncipe, de modo a poder perseguir seus
propósitos à sombra da autoridade soberana. O povo, por outro lado, quando não
pode resistir aos ricos, procura exaltar e criar um Príncipe dentre os seus que
o proteja com sua autoridade."
A dificuldade é maior de manter-se no poder o Príncipe que chegou ao poder
através da aristocracia do que o que chegou através do povo, pois a
aristocracia se considera igual ao monarca, sendo que o soberano não pode assim
dirigi-los ou ordenar em tudo que lhe apraz.
A aristocracia quer oprimir; e o povo
apenas não quer ser oprimido. Quem chegar ao poder deve sempre manter a estima
do povo, isso será conseguido o protegendo. O povo é quem está com o Príncipe na adversidade,
quem o povo está com ele, é difícil derrubá-lo do poder.
Capítulo 10: Como avaliar a força dos
Estados
É examinada a situação do Príncipe, se este, em caso
de ataque, pode reunir um exército suficiente, e defender-se; ou se não, este
não podendo combater, é forçado a refugiar-se no interior de seus muros,
ficando na defensiva.
"Portanto, o Príncipe que é senhor de uma
cidade poderosa, e não se faz odiar, não poderá ser atacado; ainda que o fosse,
o assaltante não sairia gloriosamente da empreitada."
O povo tem enorme influencia para definir o a força
de um Estado; se o povo estiver ao lado do Príncipe, mesmo que um
dominador consiga tomar o lugar do Príncipe, não se dará bem,
pois o povo se levantará contra ele.
Capítulo 11: Os
Estados eclesiásticos
Estados conquistados com o mérito ou com a sorte,
porém estes não são necessários para conservá-lo, pois são sustentados por
antigos costumes religiosos.
"Tão fortes e de tal qualidade são estes que
permitem aos Príncipes se manterem no poder qualquer que seja sua conduta e modo de vida.
Só esses Príncipes podem ter estados sem defendê-los e súditos sem governá-los; e
seus estados, mesmo sem ser defendidos, não lhes são tomados."
Mesmo que chegue um dominador e tente colocar tal
estado sob seu poder, se o povo se mantiver unido, este não obterá êxito em sua
empreitada; os costumes são fortes e mantêm o povo unido.
Capítulo 12: Os diferentes tipos de
milícia e de tropas mercenárias
Na ótica maquiaveliana, a base principal de um
Estado são boas leis e bons exércitos. Há três tipos de tropas, são elas,
próprias, mercenárias, auxiliares ou mistas. Sendo as mercenárias e as
auxiliares prejudiciais e perigosas.
Os soldados mercenários são covardes, seu único
motivo pra lutar é o salário, que nunca é o suficiente para que morram
pelo Príncipe numa batalha. São dispostos ao Príncipe em tempos de paz,
mas ao chegar à guerra, o abandonam.
"E a experiência demonstra que só os Príncipes e as
republicas armadas obtêm grandes progressos, pois as forças mercenárias só
sabem causar danos; e também que uma republica que tenha exercito próprio se
submeterá mais dificilmente ao domínio de um dos seus cidadãos do que uma
republica com armas mercenárias."
Os mercenários pensam em si e no que vão ganhar,
não no êxito do monarca. O melhor sempre é usar suas próprias armas. A vitória
obtida através da força e armas alheias não é uma vitoria genuína.
Capítulo 13: Forças auxiliares,
mistas e nacionais
Maquiavel iguala as forças auxiliares
com as mercenárias: são inúteis. As tropas auxiliares podem até ser em si
mesmas eficazes, mas são sempre perigosas para os que delas se valem se são vencidas,
isto representa uma derrota; se vencem, aprisionam quem as utiliza.
Quanto às tropas mistas, Maquiavel diz sê-las mais
eficazes que as compostas inteiramente de mercenários ou auxiliares, mas são
muito inferiores que um exército inteiramente nacional.
"Um Príncipe prudente, por
conseguinte, evitará sempre tais milícias, recorrendo a seus próprios soldados;
preferirá ser derrotado com suas próprias tropas a vencer com tropas alheias,
vitória que não se pode considerar genuína."
"Em conclusão, nenhum Príncipe pode ter segurança
sem seu próprio exército, pois, sem ele, dependerá inteiramente da sorte, sem
meios confiáveis de defesa, quando surgirem dificuldades."
Assim como ocorreu com Davi quando Saul o ofereceu
sua armadura para que enfrentasse Golias, e Davi preferiu ir com sua funda e um
punhal, pois com a armadura de Saul são poderia dar o melhor de si. No entanto
as armas alheias nos sobrecarregam e limitam, isso quando não falham. Portanto,
o seguro mesmo é ter seu próprio exército e suas próprias armas.
Capítulo 14: Os deveres do Príncipe para com as
milícias
O Capítulo inicia mostrando o objetivo ou
pensamento principal de um Príncipe, que além da
guerra, é também as leis e a disciplina. Esta é a única arte que se espera de
quem comanda. Quem negligencia a arte da guerra, perde a consideração e o
principal, o Estado.
A caça é indicada por Maquiavel como um ato a ser
sempre praticado pelos soldados, para que estes se habituem à natureza das
regiões, a posição das montanhas, a abertura dos vales, aos rios, pântanos...
"A fim se exercitar o espírito, o Príncipe deve estudar a
historia e as ações dos grandes homens; ver como se conduziram na guerra,
examinar as razões das suas vitorias e derrotas, para imitar as primeiras e
evitar as ultimas."
Estes são os deveres do Príncipe que nunca deve se
acomodar, mesmo nos tempos de paz, mas sempre estar preocupado para que suas
tropas estejam em forma quando a sorte mudar, pois como foi dito no Capítulo 3,
as guerras não podem ser evitadas.
Capítulo 15: As razões pelas quais os
homens, especialmente os Príncipes, são louvados ou
vituperados
É citado que levando em conta
os Príncipes, uns são tidos como liberais, outros por miseráveis; um, generoso, o
outro ávido; um, cruel, o outro misericordioso; um, perjuro, o outro fiel; um,
efeminado e pusilânime, o outro bravo e corajoso; humanitário ou altaneiro;
lascivo ou casto; franco ou astuto; difícil ou fácil; serio ou frívolo;
religioso ou incrédulo...
Maquiavel reconhece que o ser humano não possui a
capacidade de ter todas as qualidades acima enumeradas, então, faz-se
necessário que o Príncipe tenha a prudência para evitar o escândalo provocado
pelos vícios que poderiam abalar seu reinado, evitando os outros se for
possível; se não for, poderá praticá-los com menores escrúpulos. Diz ainda
Maquiavel: "Quem
quiser praticar sempre a bondade em tudo o que faz está fadado a sofrer, entre
tantos que não são bons. É necessário, portanto, que o Príncipe que deseja
manter-se aprenda a agir sem bondade, faculdade que usará ou não, em cada caso,
conforme seja necessário."
O Príncipe pode até aparentar
ter todas as qualidades acima citadas, mas tê-las realmente já poderia
tornar-se prejudicial; por isso é necessário que o Príncipe haja de acordo com
o momento. Se for necessário usar de bondade, que use; se preciso for a
crueldade, que use.
Capítulo 16: A liberalidade e a
parcimônia
A liberalidade deve ser praticada de modo
apropriado, não sendo reconhecida. Um Príncipe liberal gastará
todo o seu tesouro, o que o fará impor pesados impostos ao povo, o que o fará
ser odiado pelos seus súditos. E ainda pouco estimado por ter se tornado pobre.
E se o Príncipe quiser corrigir sua liberalidade será passado imediatamente por
miserável.
"[...] o Príncipe não se deve incomodar
de ser tido como miserável, para não ter de onerar demais os súditos, para
poder defender-se e para não tornar-se pobre e desprezado,[...]"
Maquiavel nos mostra neste capitulo que para aquele
que já é Príncipe a liberalidade é prejudicial, mas para aquele que está a caminho de ser,
ser tido como liberal é necessário. É necessário para o Príncipe que esteja à frente
do exército e vive do botim de guerra, do roubo e de resgates, pilhando a
riqueza alheia. Esbanjar as riquezas alheias não diminui a reputação do Príncipe, mas sim a ergue;
apenas esbanjar os próprios recursos que prejudica. E o mais importante é que
o Príncipe não seja odiado ou desprezado; a liberalidade leva a uma dessas
condições.
Capítulo 17: A crueldade e a
clemência. Se é preferível ser amado ou temido
Todos os Príncipes devem preferir
ser considerados clementes, e não cruéis. Porém deve se saber usar essa
clemência. Quando o objetivo é manter o povo unido e leal, o Príncipe não deve se
importar em ser tido por cruel; os Príncipes novos no poder
não podem fugir da reputação de cruel, pois estes estados são os mais
perigosos.
Seria bom que o Príncipe fosse ao mesmo
tempo amada e temido, mas como essa junção é difícil, é preferível que seja
temido. Temido de forma que, se não é possível conseguir o amor de seus
súditos, se evite o ódio; o que é conseguido não atentando contra as mulheres e
os bens dos súditos e cidadãos. Se for necessário que o Príncipe decrete a execução
alguém, que este dê um bom motivo.
"Os homens têm menos escrúpulos em ofender
quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos
de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens
são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca
falha."
Quando o Príncipe está à frente do
exército deve manter a fama de cruel, ou caso contrario, o monarca não
conseguirá comandar com êxito.
O amar vem de acordo com cada homem, mas o temor
lhes é imposto; sendo assim o Príncipe deve fazer o uso do
que lhe tem nas mãos, e não no que depende da vontade alheia.
Capítulo 18: A conduta dos Príncipes e a boa-fé
É esperado de um Príncipe que mantenha sua
palavra empenhada, e viver com integridade e não com astúcia. Todavia nem
sempre o Príncipe pode agir com boa-fé, principalmente quando é necessário para isso ele
ir contra os próprios interesses e quando os motivos para que mantenha a
palavra não existam mais.
Pode-se lutar de duas formas: pela lei e pela
força. Sendo a primeira própria dos homens; a segunda própria dos animais.
Contudo uma não é duradoura sem a outra. Quando se é necessário que o Príncipe aja como um animal,
deve saber agir como o leão e a raposa; o leão para afugentar os lobos e a
raposa para fugir das armadilhas.
"[...] é bom ser e parecer piedoso, fiel, humano,
íntegro e religioso; mas é preciso ter a capacidade de se converter aos
atributos opostos, em caso de necessidade."
De certo que se não consiga ter todas as qualidades
acima citadas, é bom aparentar tê-las; nada é mais necessário do que a
aparência da religiosidade. Por tanto:
"Todos veem nossa aparência, poucos sentem o
que realmente somos, e estes poucos não ousarão opor-se à maioria que tenha a
majestade do Estado a defendê-la."
O que importa para um Príncipe é a aparência que
passa para os seus subordinados, muitas vezes sendo o contrário do que pensa o
povo, mas conseguindo esconder o que se é de verdade.
Capítulo 19: Como se pode evitar o
desprezo e o ódio
Os Príncipes devem tomar o
cuidado que suas decisões sejam irrevogáveis, e que as sustente de tal forma
que a ninguém ocorra enganá-lo ou deslocá-lo.
Os Príncipes devem se
acautelar contra duas coisas: seus súditos e as potências estrangeiras. Contra
as potências estrangeiras lhe servirá boas armas e bons amigos; contra as
conspirações dos súditos lhe servirá não ser odiado, visto que o conspirador só
executará seu plano se pensar que a morte do soberano satisfará o povo.
"Em poucas palavras, do lado do conspirador
estão o medo, os ciúmes, as suspeitas, o receio do castigo; do lado do Príncipe há a majestade do
poder, as leis, a proteção oferecida pelos amigos e pelo Estado. Quando a esses
fatores se acrescenta a estima do povo, é impossível que alguém cometa a
temeridade de conspirar."
Os Príncipes sábios tentam
sempre não aborrecer os grandes e agradar o povo. Pode-se fazer isso deixando
reservado aos grandes as tarefas como os julgamentos isso pra eles é estima,
todavia o monarca deve ele mesmo fazer os favores. O Príncipe deve sempre tomar
cuidado para não injuriar alguém de cujos serviços se utilize.
Sempre o que conta para o Príncipe é o que seus
súditos sentem por ele; se o povo sente ódio ou desprezo, e ainda por cima, não
o temem, o Estado será perdido facilmente. Capítulo
20: A utilidade de construir fortalezas e de outras medidas que os Príncipes adotam com
frequência
Quando um Príncipe novo chega ao poder
deve armar seus súditos, o que lhes imporá que o Príncipe lhes tem confiança,
eles assim se tornam leais e os que já eram leais matem sua lealdade. Se
o Príncipe novo desarma seus súditos, lhes imporá que não lhes tem confiança, o que
provoca ódio contra o soberano.
Todavia se um Príncipe adquire um Estado o
adicionando ao seu, é necessário que o desarme, com exceção dos habitantes que
estiveram do seu lado na conquista; mesmo esses é necessário que lhes seja
cortada a ousadia, arranjando as coisas de modo que o poder militar do novo
domínio fique nas mãos de soldados que viviam no Estado antigo, junto ao Príncipe .
Disse Maquiavel: ... o Príncipe sábio deve fomentar
astuciosamente alguma inimizade, se houver ocasião para tal, de modo a
incrementar sua grandeza superando esse obstáculo.
Quanto às fortalezas, se o Príncipe teme seus súditos
mais do que os estrangeiros, deve construí-las; em caso contrário, não.
Maquiavel: ... a melhor fortaleza é a construída sobre a estima dos súditos,
pois as fortificações não salvarão um Príncipe odiado pelo povo.
Capítulo 21: Como deve agir um Príncipe para ser estimado
Nada faz com que um Príncipe seja mais estimado
do que os grandes empreendimentos e os altos exemplos que dá.
Em cada ação o Príncipe deve procurar
atrair fama de grandeza e excelência. Sendo que quando algum cidadão faz algo
extraordinário, bom ou ruim, o Príncipe deve lhe dar um
recompensa ou uma punição que seja amplamente comentada pelo povo. Castigos e
recompensas devem estar em perfeito equilíbrio; um superior não pode valer-se
apenas de um ou de outro.
É elevada a estima de um Príncipe que age como amigo
ou inimigo declarado, não ficando em neutralidade quando dois de seus vizinhos
poderosos estão em guerra.
"O que não é amigo pedirá sempre a
neutralidade, e o amigo solicitará uma decisão, e a entrada na guerra. Os Príncipe s inseguros
preferem geralmente permanecer neutros, pensando evitar perigos presentes, o
que o mais das vezes os arruína."
Quando o Estado que o Príncipe apoiou vence, é
estabelecido um vinculo forte de amizade e gratidão por parte desse Estado.
Contudo quando o Estado apoiado perde, este sempre ajudará e protegerá enquanto
puder seu companheiro de uma sorte que poderá mudar.
O Príncipe não deve nunca
aliar-se a alguém poderoso para causar dano a outrem, a não ser quando for
necessário, pois se o aliado vence, o Príncipe fica sujeito ao seu
poder.
Os Príncipes devem honrar os que
são ativos, melhorando seu Estado. Deve-se entreter o povo com festas e
espetáculos em certas épocas; e também o Príncipe dever estar uma vez
ou outra em contato com os membros de subgrupos do Estado, mas sempre mantendo
sua dignidade majestosa. Com isso o
povo terá sempre prazer em ter tal como seu soberano e sempre estará ao seu
lado.
Capítulo 22: Os ministros dos Príncipes
Para conhecer um Príncipe, basta tomar
conhecimento dos homens que o cercam, eles causam a primeira impressão do
monarca. O monarca sábio escolhe bem seus ministros.
Maquiavel distingue três tipos de mente: um
compreende as coisas por si; o segundo compreende as coisas demonstradas por
outrem; o terceiro nada consegue discernir, nem só, sem com a ajuda dos outros.
O primeiro tipo é o melhor de todo; a segunda também é muito boa, mas a
terceira é inútil.
"Toda vez que o Príncipe tem o discernimento
para reconhecer o bem e o mal naquilo que se faz ou diz (mesmo que não
apresente originalidade de intelecto), identificará as obras boas ou más do seu
ministro, corrigindo algumas e incentivando outras."
O ministro que procura sempre em todas as suas
ações seu próprio interesse nunca será um bom ministro, não merecendo
confiança. Quem é ministro nunca deve pensar em si próprio, mas sim no monarca.
Para assegurar a fidelidade do ministro, o Príncipe deve honrá-lo e
enriquecê-lo, fazendo lhe favores e atribuindo lhe encargos.
Podemos dizer que se conhece o superior através de
seus subordinados.
Capítulo 23: De que modo escapar aos
aduladores
O Príncipe deve evitar os
aduladores as cortes estão cheias , mostrando que não há ofensa em falar a
verdade, todavia quando todos podem falar a verdade a uma pessoa, perdem-lhe o
respeito. O Príncipe sábio tomará homens sábios como conselheiros, que falarão a verdade
ao Príncipe, mas somente quando perguntados e sobre o que perguntados, assim
o Príncipe não ouvirá mais ninguém. O Príncipe ouvirá seus
conselheiros somente quando quiser e as decisões tomará sozinho.
O Príncipe que não é sábio
nunca poderá ser bem aconselhado, pois ele ouvirá os conselheiros e não saberá
harmonizá-los. Se a sorte lhe dê um orientador ainda poderá se sobressair, mas
mais na frente este orientador lhe tomará o poder.
"Os conselheiros pensarão todos nos seus
próprios interesses, e o Príncipe será incapaz de
corrigi-los, ou de reconhecê-los. Não pode ser de outra forma, pois os homens
falam sempre com falsidade, a não ser quando a necessidade os obriga a serem
verídicos."
Os bons conselhos nascem da prudência do Príncipe; e que esta não
nasce dos bons conselhos recebidos. Tudo vem da capacidade do Príncipe, da sua capacidade
de escolha. Em suas decisões o Príncipe deve ser claro e
objetivo, mantendo, sempre que possível sua palavra. Um Príncipe que muda a todo o
tempo de ideia acaba por deixar o povo confuso, o fazendo perder a confiança.
Capítulo 24: As razões por que
os Príncipes da Itália perderam seus domínios
Um novo soberano é sempre mais observado do que um
soberano de antiga dinastia; quando o soberano novo faz atos virtuosos, estes
cativarão mais os súditos do que os de um monarca de antiga dinastia. Deverá o
monarca novo não falhar em outras coisas, fortalecendo seu Estado com boas
leis, boas armas e bons exemplos.
"Se considerarmos aqueles senhores que
perderam seus estados na Itália de hoje, como o rei de Nápoles, o que de Milão
e outros, encontraremos neles em primeiro lugar um defeito comum no que se
refere às forças armadas, pelos motivos já amplamente examinados. [...] alguns
ou sofriam a hostilidade do povo ou, se o povo lhes tinha estima, não souberam
garantir-se contra os nobres."
Quando o Príncipe tem o povo do seu
lado, mesmo assim este não pode deixar ser derrubado esperando que o povo venha
a reerguê-lo se levantando contra o dominador. Disse Maquiavel: Só são boas,
seguras e duráveis aquelas defesas que dependem exclusivamente de nós, e do
nosso próprio valor.
Capítulo: 25: O poder da sorte sobre
o homem e como resistir-lhe
Na visão de Maquiavel, tudo que
acontece conosco é atribuído à sorte, mas metade disso podemos controlar. Para
ele a sorte é como um rio, que quando este corre calmamente podemos construir
diques e barragens para que quando as águas vierem com fúria, sejam desviadas e
seu ímpeto seja menos selvagem e devastador.
"[...] o Príncipe que baseia seu
poder inteiramente na sorte se arruína quando esta muda. Acredito que é
prudente quem age de acordo com as circunstancias, e da mesma forma é infeliz
quem age apondo-se ao que o seu tempo exige."
O tempo vai determinar como que cada Príncipe deve agir, contudo
deve-se agir no tempo certo e sempre preparado para quando a sorte variar,
assim Maquiavel aconselha ser impetuoso a cauteloso com a sorte.
Capítulo 26: Exortação à libertação da Itália,
dominada pelos bárbaros
Neste ultimo Capítulo Maquiavel expressa o seu
anseio pela libertação de sua pátria, a Itália.
"[...] agora, quase sem vida, a Itália espera
por quem lhe possa curar as feridas e ponha fim à pilhagem na Lombardia, à
rapacidade e à extorsão no reino de Nápoles e na Toscana, curando-a das chagas
abertas há tanto tempo. Pede a deus que lhe envie alguém capaz de libertá-la
dessa insolência, dessa Barbara crueldade. Esta disposta a seguir uma bandeira,
desde que alguém a empunhe."
Maquiavel deixa explícito neste Capítulo que seu
desejo é que Lorenzo de Medici se torne o soberano da Itália daqueles tempos,
deixando claro também o principal motivo de ter escrito O Príncipe, um manual para
que Lorenzo de Medici reine com êxito na Itália:
"Não se deve, portanto deixar que se perca
esta oportunidade; a Itália, depois de tanto tempo, precisa encontrar seu
libertador."
"Que vossa ilustre família possa, portanto,
assumir esta tarefa com a coragem e as esperanças inspiradas por uma causa
justa, de forma que, sob sua bandeira, nossa pátria volte a se levantar
[...]"
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