Amor, de Clarice Lispector
Literatura; mulher; Amor; Clarice Lispector.
Não havia
como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água
escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha
vergonha? E que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se
enchera com a pior vontade de viver.
(Clarice
Lispector, "Amor" in. Laços de Família, 1998. p. 26-27)
INTRODUÇÃO
O
conto Amor de Clarice Lispector publicado no ano de 1982
presente na obra Laços de Família apresenta uma temática
voltada para as questões existenciais, em que a personagem protagonista Ana, em
um determinado momento da sua vida cotidiana demonstra uma extrema insatisfação
com a realidade a sua volta.
A partir dos
estudos sobre a literatura feminina e a história da mulher na sociedade ao
longo dos tempos. Procuraremos analisar a personagem Ana segundo o que algumas
autoras, como Rita Terezinha Schmidt e Maria Consuelo Cunha Campos defendem a
cerca da mulher na literatura.
Clarice
Lispector pode ser vista como uma das grandes motivadoras na narrativa de
autoria feminina, que começa a se expandir no universo cultural brasileiro,
apresentando características inovadoras em termos de linguagem e de
perspectivas. Conhecida por sua complexa subjetividade e seus questionamentos
do mundo externo sob o interno, nos proporciona uma leitura, em seu conto Amor,
da tomada de consciência de mundo da personagem protagonista. Por a isso,
enxergamos na personagem Ana a figura de um ser humano com aspectos
psicológicos incomuns, em conflito consigo mesma e tudo que representa para a
sua família e a sociedade.
A análise da
personagem Ana, nos proporciona um maior entendimento das questões
existenciais, por se tratarem de monólogos interiores da personagem que
acontecem e se combinam num estilo indireto livre até por fim se encontrarem em
toda obra. No qual teremos uma redução dos vários universos pessoais às
correntes de consciência. A obra da autora sublinha a precariedade e o
nomadismo da consciência da existência entre as alegrias e as agonias do ser.
Os teóricos
de base utilizados para a elaboração deste artigo foram: SCHMIDT, 1995; CAMPOS,
1992.
LITERATURA E
GÊNERO
Maria
Consuelo Cunha Campos, em seu texto sobre o gênero na literatura, fala dos
papéis masculinos e femininos na sociedade. Os papéis sociais
dos sexos estão culturalmente determinados, como se sabe o sistema
gênero-sexo enquanto constituição simbólica sócio-histórica organizada
socialmente é vivenciada simbolicamente, por meio da interpretação das
diferenças dos sexos, a identidade incorporada no modo de ser e de
vivenciar o corpo.
[...] na
relação masculino e feminino, a opressão e exploração deste último pelo
primeiro: a história das sociedades até agora existentes constituiria uma
história da subordinação das mulheres pelos homens em base aos sistemas
gênero-sexo que culturalmente produziram. Donde não se tratar de pura
diferença, mas sim de diferença hierarquizada em vista de poder. (CAMPOS, Maria
Consuelo Cunha. Gênero. In Palavras da crítica. Rio de janeiro:
Imago Ed., 1992.p. 111-112).
Conforme a
história, os sistemas gênero-sexo revelam a subordinação das mulheres pelos
homens em base culturalmente estabelecida. Biologicamente a diferença dos sexos
é marca da alteridade que parte do pressuposto básico de que todo o homem
social interage e interdepende de outros indivíduos e que a existência do
"eu - individual" só é permitida mediante um contato com o outro.
A
ginocrítica, ciência que faz um estudo feminista da escrita da mulher, afirma
que essa escrita é marcada pelo sexo. Sendo assim, acredita-se que através da
desnaturalização e desideologização da opressão sofrida pela mulher, há o
predomínio de valores culturais patriarcais na literatura produzida pela
mulher.
A crítica
feminista condena o desprezo pela contribuição da mulher na literatura, ou
seja, o desprezo de determinadas escritoras, a exclusão devido a predominância
masculina amparada pela ideologia sexista que apóia os valores referentes ao
papel tradicional da mulher. Além disso, denuncia a predominância do
androcentrismo, o masculino como referência, o cânon literário marcado pela
inferiorização feminina.
[...] na
crítica feminista, ocorre a denúncia da perspectiva androcêntrica que,
estatuindo o ponto de vista masculino como a referência, fazia redundar o cânon
literário num jogo de cartas não menos previamente marcadas, pela
inferiorização feminina prévia. (idem, p. 118)
Conforme a
história mostra, existiram três fases da mulher na literatura, a primeira
marcada pela mulher imitando a escrita masculina, adotando pseudônimos,
vestuários e padrão de conduta masculino. A segunda marcada pela mulher lutando
pelo seu direito, nessa fase a escrita da mulher se torna uma escrita de
protesto em face de exclusão e rebaixamento sofrido.
E a última
fase denota uma escrita marcada pela conscientização, a partir dos anos 60 da
auto-afirmação da escrita-mulher, nessa fase a escrita é caracterizada pela
diferença em relação ao homem, pois como a vivência da mulher é diferente a
vivência do homem o seu discurso conseqüentemente se torna diferente, desse
modo a escrita feminina difere da masculina.
Enfim, a
conscientização feminina ocorre quando a mulher, por meio da análise de sua
vida íntima e de seu comportamento frente à cultura a que está inserida, toma
consciência do seu papel na sociedade. A problemática das relações de gênero
como um conjunto de relações sociais sustenta a idéia de ambos, homem e mulher
estarem inter-relacionados e presos ao gênero. Assim, nas sociedades ocidentais
contemporâneas os sistemas gênero-sexo têm sido utilizados conceitualmente de
acordo com o sistema de dominação.
Desse modo,
Rita Terezinha Schmidt, vem acrescentar que de um modo geral a negação da
mulher como sujeito do discurso no contexto da literatura brasileira até a
década de 70, levou a escritoras como Raquel de Queiroz, Cecília Meireles e
Clarice Lispector a contradizer por parte de suas obras críticas, a tradição
estética de base que excluiu a mulher da produção artística, dando lugar
unicamente ao homem, alegando ser a arte um dom essencialmente masculino.
Com a mulher
exercendo o papel secundário da reprodução, a diferença da experiência feminina
foi neutralizada e sua representação reduzida de importância por não atingir ao
patamar de "excelência" exigido pela crítica literária da época.
Sendo assim, a experiência feminina na literatura, foi marcada pela exclusão e
desvalorização do seu discurso.
Porém, mesmo
com as resistências encontradas, tais escritoras desafiaram o processo de
socialização e transgrediram os padrões culturais pré-estabelecidos, nos
proporcionando assim, uma tradição de cultura feminina que apesar de
desenvolvida numa cultura dominante, abre espaço ao diálogo, as discussões e
tensões, levando ao desequilíbrio das representações cristalizadas pelo
masculino.
ANÁLISE DA
PERSONAGEM ANA
A partir da
leitura dos textos de Maria Consuelo Cunha Campos e Rita Terezinha Schmidt,
faremos uma análise do conto"Amor" presente na obra Laços de
Família de Clarice Lispector. A obra citada foi escrita muito antes da
sua publicação em 1982, portanto faz-se alusão a sociedade da época da década
de 60 para 70.
A época em
que foi escrito o conto "Amor" foi marcada pelo início da realização
de projetos culturais e ideológicos alternativos decorrentes da crise no
moralismo rígido da sociedade na década de 50. Na década de 60 para 70 apresentou
o estado de espírito que pode ser definido por "um tom mais ácido",
revelando experiências com drogas, a perda da inocência, a revolução sexual e
os protestos juvenis contra a ameaça de endurecimento dos governos. É nessa
época que se dá início a uma grande revolução comportamental o surgimento do
feminismo e os movimentos civis em favor dos negros e homossexuais.
Foi nessa
perspectiva que Clarice Lispector escreveu o conto"Amor" que, de
forma complexa e subjetiva, faz uso intenso de metáforas, relatando a história
da personagem Ana, uma simples dona de casa entregue a uma vida de rotina, como
por exemplo, cuidar dos filhos, da casa e do marido Sob uma visão crítica a
cerca do papel da mulher na sociedade, revelou sua angústia por ser uma escritora
da década de 60, a qual sofreu pela falta de valorização na literatura por ser
uma mulher.
A personagem
vive cercada por situações simples e corriqueiras, mas guarda em seu
inconsciente desejos que insiste em negar por considerá-los um perigo à
situação segura e reconfortante que imagina viver.
Os filhos de
Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho,
exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era
enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no
apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas
que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a
testa, olhando o calmo horizonte como um lavrador. Ela plantara as sementes que
tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores, cresciam
árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água
enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido
chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno dos empregados do
edifício. Ana dava a tudo, tranquilamente, suas mãos pequenas e fortes, sua
corrente de vida.
(LISPECTOR,
p. 17-18)
Segundo
Campos, conforme a história mostra, existiram três fases da escrita da mulher
na literatura, a primeira marcada pela mulher imitando a escrita masculina,
adotando pseudônimos, vestuários e padrão de conduta masculino. A segunda
marcada pela mulher lutando pelo seu direito, nessa fase a escrita da mulher se
torna uma escrita de protesto em face de exclusão e rebaixamento sofrido. E a
última fase denota uma escrita marcada pela conscientização, a partir dos anos
60, pela auto-afirmação da escrita-mulher, nessa fase a escrita é caracterizada
pela diferença em relação ao homem, pois como a vivência da mulher é diferente
da vivência do homem, o seu discurso conseqüentemente se torna diferente, desse
modo a escrita feminina difere da masculina.
Seguindo o
pensamento de Campos, Clarice Lispector apresenta em sua obra uma escrita
determinada e feminina, mostrando criticamente os valores nos quais acredita. A
partir da personagem Ana, ela mostra as contradições e angústias vividas por
uma dona de casa durante uma época de transição de valores culturais
estabelecidos pela sociedade de base patriarcal.
A personagem
Ana, procurava se entregar a uma vida tranqüila e previsível, na qual não
poderia haver espaços para situações inusitadas. Mas, em determinados momentos
apresenta certo desconforto, pois havia dentro dela, sensações que ela não
conseguia negar, que insistiam em emergir do seu inconsciente. A personagem se
perdia, mas, lutava para encontrar um equilíbrio em tudo que vivia. Ana
desejava algo, mas não sabia exatamente o que era. Estava presa àquele mundo de
convenções e se sentia mais segura ali, "Certa hora da tarde era mais
perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantava riam dela. Quando nada
mais precisava de sua força, inquietava-se.[...]" (LISPECTOR, p. 18).
Havia
momentos na vida da personagem, que causavam angústias, percebemos que a personagem
se sente encurralada, perdida em si mesma, pois repensando a sua vida começam a
surgir desejos que podem ser entendidos como ânsia pela liberdade.
No fundo,
Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso
perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de
mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com
quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos
verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de
vida. Nela havia aos poucos emergido[...].
(LISPECTOR,
p. 18).
Ana constrói
para si uma vida que segundo ela, considera segura e reconfortante, tenta
deixar de lado toda aquela inquietação que há tempos a persegue e considera um
perigo, uma ameaça, uma risca à vida que havia escolhido para si mesma, assim
procura ver as coisas que tem como certas, concretas e seguras, contrapondo a
sentimentos insólitos que sentira em sua juventude e volta e meia desperta do
seu inconsciente.
Clarice
Lispector nesse conto relata a "imagem" de mulher existente numa
sociedade onde ainda persistem valores ultrapassados. Ana mesmo com o anseio de
libertar-se da mesmice na qual está condicionada, tem medo. Não consegue se
aceitar e reconhecer estas sensações que volta e meia se fazem presentes em sua
mente, que poderiam ser vistas como a possibilidade de mudança para uma vida na
qual poderia se auto-afirmar e ser sujeito da sua própria existência. Sem se
prender aos padrões e convenções da época.
Seria
preocupação, reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a
casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto cada membro da família
distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava
um pouco em espanto. Mas sua vida não havia lugar para que sentisse ternura
pelo seu espanto – ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa
lhe haviam transmitido.
(LISPECTOR,
p. 19)
O que
sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma
exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade
insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto.
Assim ela o quisera e escolhera.(LISPECTOR, p. 18-19)
Desse modo,
de acordo com Rita Terezinha Schmidt, com a negação da mulher como sujeito do
discurso no contexto da literatura brasileira até a década de 70, Clarice
Lispector era reconhecida por parte da sua crítica. Ela negava a tradição
estética basicamente européia, que definia a produção artística como unicamente
um dom essencialmente masculino e a mulher com o papel secundário da
reprodução. Sendo assim, a experiência feminina na literatura, foi marcada pela
exclusão e desvalorização do seu discurso.
Logo, Ana
vivenciava momentos nos quais se angustiava, pois se defrontava com o que
considera fantasmas interiores, mas que pode ser considerado como um fluxo de
consciência em que a ela, poderia se libertar daquele mundo que a oprimia. Só
que por estar presa a uma idéia cristalizada, a personagem vê como se o perigo
estivesse justamente nesses momentos de perturbação psicológica.
O bonde se
arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então
que olhou para o homem parado no ponto. A diferença entre ele e os outros é que
ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um
cego. O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa
intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem
cego mascava chicles.
(LISPECTOR, p.
19)
A partir
deste fragmento, percebemos que a inquietação na personagem é ainda maior, ela
finalmente emerge na pessoa do cego, Ana se vê nele, o cego representa o
significante, pois ele traz à tona o que tanto perturbava a personagem, a falta
de liberdade, o seu desejo de ter uma vida diferente da que havia imposto a si
mesma "Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava
pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgira-lhe com
dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria
entregando-lhe o volume (LISPECTOR, p. 20).
Seu desejo
de liberdade emergia-se por fim, a personagem reconhece o sentimento que tanto
a perturbara, sentimento de frustração, de não realização, percebera que tudo
aquilo que lhe bastara em um determinado momento não fazia mais sentido, era a
tão sozinha liberdade que ficara presa em si mesma. Tudo que vivera até agora,
não era real, passou a compreender isso na figura do cego com sua indiferença,
a sua presença causara um grande transtorno a Ana, e fez com que entendesse que
na sua condição não se sentia realizada, estava presa às convenções sociais e
deixara de viver.
A rede de
tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede
perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido, não sabia o que fazer
com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçara ao
redor. O mal estava feito. Porquê? Teria esquecido de que haveria cegos? A
piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam
antes do acontecimento estavam agora de sobre aviso, tinham um ar hostil,
perecível... o mundo se tornara de novo um mal-estar.(LISPECTOR, p. 21)
Neste
fragmento percebemos que tudo se desconstrói ao redor da personagem, as coisas
fugiram ao seu controle. Ela desperta para a realidade, e isso tudo a
amedronta. Tudo está se desorganizando a sua volta. E ela não sabe como lidar
com essas novas sensações ou com essa nova consciência de mundo.
Não havia
como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água
escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha
vergonha? E que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só
piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.
(LISPECTOR, p.
27)
A situação
de desconforto era cada vez mais intensa, todos os questionamentos emergiam em
sua mente, como assumir ou não a sua vontade de viver uma outra realidade, de
sair deste mundo de convenções ou ignorar e deixar as coisas seguirem na mesma
linha, continuar vivendo a mesma vida.
Hoje de
tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom
humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não
era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo
sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver. Acabara-se a vertigem de
bondade. E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do
espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como
se apagasse uma vela soprou a pequena flama do dia.(LISPECTOR, p. 30)
A personagem
acaba se prendendo ao mundo ao qual já estava acostumada, por considerá-lo mais
seguro, porém a sua consciência não continua a mesma, agora Ana consegue assumir
sua própria identidade. Assim, a personagem possivelmente teria se identificado
com o cego, pois ele representava o seu próprio reflexo, uma pessoa igualmente
limitada.
Contudo, ao
se dar conta da pessoa que havia se tornado surge uma nova identidade, a de uma
mulher que fez sua escolha e que decidiu continuar com a estrutura
pré-existente dos papéis sexuais e sociais das relações que constituem a
família e a sociedade.
Enfim, a
conscientização feminina, conforme Campos, ocorre quando a mulher, por meio da
análise de sua vida íntima e de seu comportamento frente à cultura a que está
inserida, toma consciência do seu papel como mulher na sociedade. E da
problemática existente nas relações de gênero como um conjunto de relações
sociais que sustenta a idéia de ambos, homem e mulher estarem
inter-relacionados e presos ao "gênero".
Diante
disso, o que parecia ser um relato de uma simples experiência acaba por nos
mostrar uma grande revelação, a percepção de uma realidade atordoante, quanto a
questões corriqueiras do cotidiano da personagem Ana e à tomada de consciência
de seu valor como mulher.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O nosso
trabalho buscou analisar o conto de Clarice Lispector Amor, a
partir da visão literária feminista. Sabemos que a situação de submissão da mulher
é um fenômeno histórico, em que esta sofreu um processo de exclusão e
diminuição de seu papel social. Assim, historicamente a figura feminina foi
sendo associada aos cuidados domésticos e familiares, herança de uma sociedade
patriarcal, tornando-a, assim, inferior dentro da hierarquia familiar e
sacrificando nesta perspectiva sua própria identidade, pois de tanto ser
obrigada ideologicamente a viver sob a máscara da aceitação dos valores
hegemônicos, perdia-se de si mesma.
Desse modo,
a literatura feminina vem destacar as desigualdades de poder nas relações de
gênero que ainda são profundas, na tentativa de desconstruir certas
representações que historicamente instrumentalizam a opressão às mulheres e a
outras minorias.
REFERÊNCIAS
JOBIM, José
Luís (org.). Palavras da Crítica. Coleção Pierre Menard. Rio de
Janeiro: Inago, 1992. p. 111-125.
LISPECTOR,
Clarice. "Amor" in. Laços de Família. Rio de
Janeiro: Rocco, 1998.
SCHMIDT,
Rita Terezinha. "Repensando a cultura, a literatura e o espaço da autoria
feminina". In:NAVARRO, Márcia Hoppe (Org.). Rompendoosilêncio:
gênero e literatura na América Latina. Porto Alegre: Editora da
Universidade/UFRGS, 1995.
Site
visitado em 10 de fevereiro de 2009, às 12:00 h:
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